SELO 3Em dezembro, os irmãos Anderson, 23 anos, e Émerson Pereira Bento, 21, juntamente com os pais adotivos embarcam para o Brasil. Uma irmã adotiva, nascida no Haiti, também virá. Eles vivem na Holanda e o destino é o jardim Tamoio, em Jundiaí. Exatos 20 anos depois de serem tirados da família biológica, os dois reencontraram os parentes. Da publicação do primeiro anúncio de que procuravam os pais até a localização se passaram apenas três meses. A confirmação veio por caminhos tortuosos, passando por uma moradora de Fortaleza. Foi ela quem viu as fotos dos rapazes divulgadas pela ONG PDBeH – Pessoas Desaparecidas Brasil Holanda. Ela enviou para uma conhecida de Jundiaí que mora no Tamoio sem saber que a família de Anderson e Émerson é vizinha da garota. Ao ver as fotografias, a jovem percebeu a semelhança deles com um rapaz que mora na mesma rua e que teve os irmãos levados pela Justiça na década de 90. Daí para frente, as redes sociais encurtaram a distância entre Jundiaí e a Holanda.

A história dos irmãos foi a primeira da série ‘Adotados à Força’, publicada no dia 21 de maio. A partir dela, novos casos foram aparecendo: filhos que reencontraram os pais; mães que continuam procurando; alegria; tristeza e muita saudade. A série de reportagens resgata um episódio da Justiça de Jundiaí que teve repercussão nacional: a retirada de crianças de suas famílias e a adoção delas por famílias estrangeiras. Agora, duas décadas depois, os jovens querem conhecer suas origens e buscam entidades como a ONG PDBeH ou rastreiam a internet em busca de pistas sobre os seus passados. Anderson e Émerson são felizardos. Encontraram uma agulha no palheiro.

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ADOTADOS POR HOLANDESES, IRMÃOS QUEREM REENCONTRAR PAIS EM JUNDIAÍ

A apreensão – Os irmãos foram para a Holanda e não tinham a mínima ideia do motivo da adoção. Sabiam apenas os nomes dos pais. Aliás, nem isto sabiam corretamente. No vídeo divulgado no Jundiaí Agora, eles dizem que o nome do pai é José Antônio Bento. Na verdade, ele se chama José Arnaldo Bento e tem hoje 57 anos.

O primo, Vágner Valverde Silva, conta que José Arnaldo e a ex-esposa, Maria de Fátima Pereira, embora pobres, tratavam muito bem os filhos. O pai não saia de casa sem levar as crianças. Para o parente, este foi o motivo da apreensão. “Não podemos encobrir o sol com a peneira. O José Arnaldo bebia. E levava os filhos junto. Uma semana antes eu o encontrei na rua, perto do estádio Jayme Cintra, o campo de Paulista, às 11 da noite. Na época todo mundo falava que a Justiça estava apreendendo crianças de famílias pobres e mandando para a Europa. Eu falei para ele voltar para casa”, lembra Vagner.

A mãe de José Arnaldo já cuidava de um terceiro filho dele, Rafael. Ele é o mais velho dos três. E não tinha condições de tratar também de Anderson e Emerson. Maria de Fátima teve os dois meninos na sequência. “Uma semana depois de encontrá-lo perto do campo do Paulista, fiquei sabendo que ele estava no centro da cidade, com os filhos, à noite. Um taxista o mandou voltar para casa senão chamaria a polícia. Provavelmente ele estava embriagado. Eu imagino que o José Arnaldo deve ter ficado bravo com o taxista que realmente chamou a PM. Ele e as crianças foram para a delegacia. Os irmãos, depois, foram para a Casa Transitória, no Anhangabaú. Todos os dias, o Arnaldo ia até lá, subia no muro e gritava pelos filhos. O meninos ficaram ali por aproximadamente três semanas. Depois, foram adotados.

Já o tio dos garotos, Luciano Aparecido Bento, lembra que a adoção aconteceu de forma muito rápida. “O Conselho Tutelar não procurou ninguém da família para saber se poderíamos tomar conta dos meus sobrinhos”. E Vágner complementa: “o Arnaldo estava errado de ficar com as crianças na rua até tarde. Mas poderiam ter nos avisado”.
Segundo Vágner, nestes 20 anos José Arnaldo só bebeu. “Ele dizia que tinha perdido os filhos, a vontade de viver e se largou completamente. Não voltou a trabalhar e tomava cachaça de segunda a segunda. Ele e a mulher brigavam constantemente. Um culpava o outro pela apreensão dos filhos. Até que se separaram”, afirma. “Eu não conseguia dormir. Tomava remédio todas as noites. Agora parei com tudo”, explica o pai dos jundiaienses que vivem na Holanda.


ÁLBUM DE FAMÍLIA

TAMOIO
Saudade: José Arnaldo guardo a foto dos filhos e, num momento de raiva, ‘degolou’ a ex-esposa

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Espera de 20 anos: O pai José Arnaldo; o irmão Rafael; a avó Palmira; o tio Luciano e o primo Vágner

A volta – Durante este tempo todo, a família nunca deixou de falar de Anderson e Émerson. E nunca imaginou que um dia o reencontro pudesse acontecer. Quando a vizinha trouxe a foto dos irmãos, a surpresa foi geral. Até porque eles são muito parecidos com Rafael. Quando ficou sabendo que os filhos viriam para o Brasil, José Arnaldo comentou com Vágner que os garotos iriam culpá-lo pela adoção. “Eu expliquei que isto não acontecerá. Os meninos virão aqui para reencontrá-lo e abraçá-lo”.
Palmira da Silva Bento, avó dos meninos, chegou a falar com as funcionárias da ONG holandesas. Elas disseram que Anderson, o irmão mais velho, deu muito trabalho para a família adotiva. “Ele não aceitava os novos pais e foi muito rebelde”, conta.

Em dezembro, os jundiaienses querem recepcionar a família que virá da Holanda, além de uma intérprete. Serão seis pessoas no total. E não pensam em deixar as visitas tão queridas em um hotel. Só que precisam de uma cama de casal e dois beliches. Quem puder fazer esta doação pode ligar para Vágner: 9 9855 8213 ou 9 8838 3559.

Além do trabalho da ONG, aqui em Jundiaí o advogado Guilherme H.S. Ostrock vinha levantando o processo de adoção dos irmãos para mandar a papelada para a Holanda. O trabalho foi interrompido por um bom motivo…


SELO 3

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