SELO-3-696x258Talita Marquesa Diniz tinha oito anos em 1994 (foto acima com seta e abaixo). Foi o ano em que ela foi retirada da casa de uma conhecida da família. Os parentes da menina, que moravam em Francisco Morato, não tinham condições financeiras e decidiram deixá-la com esta mulher, em Jundiaí. Talita frequentava a Casa da Criança Nossa Senhora do Desterro, na praça Dom Pedro II. Lá, as irmãs perceberam ferimentos na menina. Ela era agredida pela pessoa que deveria protegê-la. As religiosas avisaram o Conselho Tutelar e Talita foi adotada por um casal de italianos. “Quando os conselheiros me levaram, entendi rapidamente que nunca mais veria minha família”. Até que através das redes sociais, ela reencontrou a irmã. No ano passado, contrariando o que pensava quando criança, Talita voltou ao Brasil e reuniu-se com a família novamente.

NUNCA

Com forte sotaque – já que aprendeu o italiano com facilidade e até o retorno nunca mais falou o português – Talita não quer comentar as agressões que sofreu. Elas já não são importantes e foram superadas. “Eu decidi dar a entrevista para mostrar aos pais, mães e filhos que não se deve perder a esperança. É possível achar sua família, como ocorreu comigo”, explica ela.

Quando entrou no avião rumo à Europa, Talita deixou para trás pai, mãe e três irmãos. “Minha família era muito pobre e não podia cuidar de quatro filhos. Por isto fui morar com esta conhecida”. A denúncia das irmãs foi seguida da apreensão da garotinha e, depois, na internação dela numa casa transitória cujo nome Talita não se recorda. “Fui adotada e achei bom quando cheguei na Itália. A partir daí, nunca mais perguntei nada sobre minha família no Brasil. “Sofri muito. Preferi esquecer tudo”, argumenta. A menina ganhou o sobrenome da nova família.

A curiosidade só veio bem mais tarde entre os 18 e 20 anos. Ela passou a perguntar para os pais adotivos sobre os parentes brasileiros, principalmente a respeito da irmã que estava grávida quando Talita foi tirada da família. “Passei a buscar informações na internet. Até que achei uma reportagem na revista IstoÉ. Nela, algumas pessoas diziam que procuravam uma certa Talita. Elas davam vários detalhes que coincidiam com a minha história. Estavam falando de mim”, diz.

NUNCA

Ela criou um Facebook com o nome de batismo. No Brasil, os irmãos fizeram o mesmo. A página deles tinha a foto de Talita ainda criança. “Um amigo viu e disse que minha foto de menina estava na rede social. Passei a escrever para minha família. Algum tempo depois passamos a nos comunicar pelo Skype. No ano seguinte, comprei uma passagem e trouxe minha irmã para a Itália. Ela ficou comigo um mês”, comenta.

No ano passado, Talita e o marido, Simone (na Itália este é um nome masculino/foto acima) vieram para o Brasil. Ela se reencontrou com a mãe, Maria Lúcia Diniz. O pai, José Coelho, já tinha morrido. “Falei com meus irmãos. Também foi até o Paraná ver meus avós. Estive na Casa da Criança, em Jundiaí. Conversei com uma das irmãs. Ela se lembrou de mim e da minha história”, diz. Talita (na foto abaixo segurando o bebê) achava que a memória a traía durante todos estes anos. “Mas quando voltei ao Brasil percebi que minha mente não havia falhado. Era tudo exatamente como eu me lembrava. Nada mudou”.

NUNCA

NUNCA

Tantos anos depois, Talita também tem uma visão clara sobre tudo o que ocorreu em sua vida. “Uma mulher ruim me maltratou. Não é fácil para um filho adotado perdoar ou esquecer. Mas não posso esquecer que minha mãe era vítima da pobreza e da ignorância. Ela não fez por mal. Acho que as coisas não poderiam ser diferentes. A única coisa errada é que a Justiça não permitiu que ninguém me visse ou soubesse para onde fui”, analisa.

Hoje, o coração de Talita está tranquilo. Até pensou em voltar a morar no Brasil. “Pensei com o coração. Mas quando pensei com a cabeça vi que não daria certo. Eu e meu marido trabalhamos aqui na Itália. Não é possível voltar. Mas dá para ir uma vez por ano. Já estou programando uma viagem para janeiro”, explica. E desta vez, Talita e Simone levarão mais uma pessoa. Ela está grávida.


NUNCA

ELES REENCONTRARAM A FAMÍLIA E PRESTARAM DEPOIMENTO À CPI

A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE LUCAS, PROVA DE AMOR GUARDADA NUMA GAVETA

FOI O TELEFONE QUE ME TROUXE AO BRASIL 24 ANOS DEPOIS

A AUSÊNCIA DE RODOLFO, UMA FERIDA ABERTA NA ALMA DE GISLAINE HÁ 20 ANOS

DA DOR À ALEGRIA DE PROPORCIONAR UM REENCONTRO

‘JÁ ME PERGUNTEI VÁRIAS VEZES COMO SERIA O REENCONTRO COM THALITA’, DIZ MÃE BIOLÓGICA

O QUE THALITA PENSA DE NÓS? A DÚVIDA DE UMA MÃE DE CORAÇÃO

BORBOLETAS E LÍRIOS NO REENCONTRO DE MÃE E FILHAS

MAIZA É UMA DAS POUCAS MÃES QUE CONSEGUIU RECUPERAR O FILHO

“DEUS MARCOU DIA E HORA PARA EU REENCONTRAR MEU FILHO”

DA PEQUENA LIDINEIA SOBROU APENAS UMA IMAGEM DESFOCADA

O SOFRIMENTO INFINITO DE FABIANA, HÁ 20 ANOS SEM VER OS FILHOS

ADOTADOS POR HOLANDESES, IRMÃOS DE JUNDIAÍ QUEREM REVER FAMÍLIA BIOLÓGICA