ALMAVinte minutos de entrevista. Vinte minutos de choro incontido. Gislaine Kelly da Silva, 36, repete a todo instante que a retirada de seu filho há quase 20 anos ainda é uma ferida aberta em sua alma. Ela não revela detalhes de como tudo ocorreu. Conta parte da história. Depois deixa de dar retorno. Amigas afirmam que Gislaine não chegou a fazer parte do movimento das Mães da Praça do Fórum, no final da década de 90. Hoje, morando no Paraná, ela não esconde que protege os três filhos a todo custo.

Os irmãos de Rodolfo Samuel da Silva têm hoje 17, 15 e oito anos. Duas adolescentes e um menino (na foto principal, acima, com Gislaine), cujos nomes ela não revelou. A mãe nunca escondeu deles a existência de um primogênito. Quando a família está reunida, o jovem que completará 20 anos em 2018, é sempre motivo de conversa. “Meus filhos ficam falando como ele deve ser. Provavelmente é moreno, com cabelos lisos castanhos. Eu sempre comento que ele tinha um probleminha num dos olhos. Ele teria de usar óculos. Eram olhos puxadinhos, parecidos com os meus”, afirma Gislaine.

Segundo ela, a ação da Justiça foi algo inesperado. “Ele foi tirado de mim em 1998. Eu era pobre. Passava por dificuldades. Meu filho tinha apenas oito meses. Esta ferida não fecha nunca”, explica Gislaine por Whatsapp.

A família vive na cidade de Araucária, no Paraná, há seis meses. Antes, moravam em Jundiaí. Há quase duas décadas, com apenas 17 anos, Gislaine engravidou. “Eu não tinha apoio de ninguém. Nem da família nem de amigos. Estava desempregada. Tiraram o Rodolfo dos meus braços. Eu queria lutar por ele”, lembra.

ALMA   ALMA ALMA          Acima: Gislaine pouco antes de engravidar de Rodolfo e as duas filhas adolescentes      

Rodolfo Samuel nasceu no dia 26 de janeiro de 1998. No dia 3 de setembro do mesmo ano, a Justiça determinou que ele fosse tirado de Gislaine. Ela não tem fotos do bebê. Os documentos, como a certidão de nascimento e a carteirinha de vacinação, foram levados. “Só fiquei com as lembranças. Chorei muito. Prometi ser uma mãe protetora. Naquela época eu era fraca e ingênua”, diz.

Se Gislaine não pôde fazer nada para impedir que retirassem Rodolfo dela, ninguém consegue impedi-la de orar pelo rapaz. “Peço todos os dias a Deus que ele viva com pessoas boas, que ele se afaste das maldades deste mundo cruel, cheio de tentações. Oro para que ele tenha o apoio que eu não tive. Nunca esqueci a data do aniversário dele”, afirma.

Para ela, Rodolfo está vivo e um dia irão se reencontrar. “Vou pedir para ele me perdoar por não ter lutado mais. Eu não fui adulta para brigar. Hoje tenho três filhos. Eles são o meu mundo. Faço tudo por eles. Tudo o que não pude fazer pelo Rodolfo”, comenta.

Gislaine enfrentou a ausência do filho criando as outras três crianças e se agarrando a Deus. “Tentei andar para frente e jurei ser firme e forte, sempre com esperança de achá-lo”, diz.

A própria Gislaine sabe quando a ferida de sua alma cicatrizará. Isto ocorrerá no momento em que souber que Rodolfo cresceu e se tornou uma pessoa boa. “Não sei se mereço que ele me chame de mãe. Só quero saber se ele está bem. Se estiver, será uma grande vitória que Deus dará para mim”, conclui.


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