Quais motivos movem o homem durante sua vida? Como é complicado pensar nisso, numa coletividade, onde cada um manifesta seus interesses próprios e fortalece seu trajeto até a conquista de seu intento. Mas haverá algum norteador para isso ou as coisas são íntimas e invioláveis? Ou será que só resta saber onde fica a porta de saída?

Precisei ir ao Santander, pela manhã. Após passar pela porta seletiva (se o segurança gostar, passa….se o segurança desconfiar, fica) retiro minha senha e sento-me, atento aos meus vizinhos de banco. E não demorou para que uma senhorinha puxasse conversa, comentando sobre a demora e sobre a dificuldade em pagar contas no caixa automático, sempre em manutenção.

De repente, ela se vira e pergunta: você sabe o nome do novo príncipe? E eu, pego de surpresa, pergunto de qual príncipe ela estava falando. Na verdade, não sabia nem o que falar. Mas ela foi enfática e me respondeu, de pronto: o príncipe da Inglaterra, oras!!!!

Fiz cara de estranhamento, tentando diminuir a fala e a curiosidade, porque não sabia o que mais poderia ser questionado por aquela cabecinha tão espirituosa. E ela me diz: queria tanto saber o nome dele.. Eu começo a olhar para o chão e a me perguntar que diferença fará o nome do príncipe da Inglaterra. Não teria algo mais sério e preocupante para atentar àquela simpática senhorinha?

Pensei em fazer esta pergunta a ela, mas fiquei com medo da resposta e da vinda de uma outra pergunta. Melhor deixar assim…


E o Tite, na revista IstoÉ, falando de seu serviço junto à seleção brasileira de futebol. Uma entrevista clara, objetiva, lúcida, cheia de carisma. Apontando limites e possibilidades, sem perder os pés do chão. Adequada para um profissional de sua envergadura e com seu preparo.

Demonstrou ter muita consciência de sua responsabilidade enquanto cabeça da seleção brasileira, mas explicitou a grandeza do trabalho em grupo e da co-responsabilidade assumida. Não perdeu tempo com previsões e respostas chavões. Foi uma conversa de gente culta, como dificilmente se encontra nessas posições. Nem minimizou e tão pouco maximizou esforços, exemplos e olhares sobre o que virá pela frente.

Diferente de outros técnicos, ele soube mapear o terreno que está trabalhando, sem se perder em frases feitas nem em devaneios soltos e de efeito. Tite é um dos intelectuais do futebol do século XXI; respeitável e sério.  Exemplo a ser seguido pelos amantes da modalidade, em especial porque ele desmistifica a ideia de que este esporte ainda é uma caixinha de surpresa.

Em seu ponto de vista, estudos e pesquisas tiram esse componente mágico a esta modalidade que tanto agita nossa população. Credita o sucesso de uma equipe aos valores humanos e técnicos ali reunidos, embalados pelo raciocínio lógico e tomadas de decisão.

Ouvir uma pessoa desta categoria é de encher a alma de alegria: ainda temos profissionais que acreditam que o estudo faz a diferença, nesta área. Parabéns Tite, pela sua assertividade e lucidez.


E a vacinação da gripe teve inicio, com muita explicação e bastante divulgação. Ainda temos aqueles que optam por especular sobre o perigo da vacina: pode matar? É obrigado? Por que todo ano? Por que só no inverno? Perguntas já tratadas há muito e até cansativas. Mas, a recorrência é sinal de que nem todas as dúvidas foram combatidas.

Mas o que falar da vacina contra o sarampo? Este mal que já tínhamos exterminado e que retorna com força total, fazendo vítimas e causando problemas para a vigilância sanitária. E para todos nós. O que fez com que estivéssemos, novamente, à mercê do sarampo e qual foi o erro cometido pela população para sofrer tanto assim?

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Então, debates de profissionais da Saúde dão conta que o erro não foi da população, de modo geral, mas um ligeiro descuido das autoridades sanitaristas, que negligenciaram com a vacinação e o ataque ao vírus de tal enfermidade. E o povo? O povo, mais uma vez, é vitimado por tais lapsos e descasos. Simples assim.


A aproximação das eleições traz cenários interessantes e entediantes, para todos. Realmente acho que deveriam, mesmo, mostrar a ficha de serviços prestados e não-prestados dos candidatos. Seria um alerta para que não fossemos pegos de surpresa, mais uma vez. No entanto, é uma opinião tola, pois jamais seria ouvida; apenas registro que assusta votar, mais uma vez, para nada mudar.

Não se trata de descrença nem de desesperança, mas de uma realidade lenta, dura e cruel, que tem nos aniquilado, diariamente, sem nos dar chances para ver mudanças e reformas viabilizadas. Num momento de intervalo de aula, de forma tranquila, questionei aos meus alunos, sobre as eleições do ano. E as respostas foram beirando ao absurdo: não votar, anular, faltar e pagar multa.

Indagados sobre o motivo para tais atitudes, as respostasforam unânimes: descrença na política, cansaço de impunidade, corrupção desenfreada, nenhuma mudança, cegueiras partidárias, ignorância eleitoral. E falo de uma população de jovens até 23 anos, de uma das universidades públicas do país. Não faço mapa de um grupo de secundaristas.

Assustador.

Amedrontador.

Até quando seremos tão incrédulos e inativos diante de nossos problemas? Por que ainda é tão fácil enganar grandes grupos populacionais? Por que as pessoas se prendem tanto aos seus mitos? Tema para fortes debates…(Foto acima: filme ‘O Corredor’/Youtube)


AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.