Dias confusos. Tudo dito e nada explicado. Muitas declarações, muitos tumultos, muitas mortes, muita água e muita enchente. Mas, soluções…nenhuma para nada. Tudo o que se tentou resolver fica para um futuro que não se define. Saídas bem infelizes. O não sempre em evidência.

O que dizer de tantos carros que agora serão monitorados e tantos celulares que serão ouvidos e tantos armamentos que serão investigados, no caso da dupla assinada no Rio de Janeiro? De repente o Brasil sai do período feudal, em que não se tinha uma polícia técnica aprimorada, para dar vida a uma polícia mais poderosa que a SWAT. Com capacidade de investigar centenas de ligações e cruzar milhares de placas de carros e levantar o arsenal bélico para descobrir de onde veio a arma cuja bala fez o estrago.

Saber disto me deixa aliviado: ninguém mais morrerá de bala perdida, porque temos uma polícia muito bem aparelhada e capaz, quem em poucos dias levantará a identidade do bandido.

Só que não…


E descobriu-se que várias das prefeituras das capitais dos Estados não investiram suficiente em obras contra chuvas e inundações. Inclusive, na baixada fluminense, os estragos ocorridos em 10 anos atrás, ainda estão para serem sanados.

Como dizem os moradores locais, eles têm pago os impostos em dia e cuidado para não deverem tributos às prefeituras, que sempre estão falidas. No entanto, as melhorias não chegam. Sempre tem algo mais prioritário, algo mais perigoso e a segurança fica para um segundo ou terceiro momento, no entanto nada acontece.

Interessante tal situação. O cidadão pode tudo: pagar, sofrer, perder, ser enganado, mas ai dele se deixar para trás uma obrigação. Sobram dívidas, nome perdido na praça, portas fechadas e crédito negado. Mas para onde vai o dinheiro que o povo deposita para o município, para o Estado e para a União? Alguém tem notícias dele?

Na Educação, não está; escolas se fecham, professores estão desempregados, salários defasados e cruéis, ensino de péssimo nível, preocupação com evolução escolar inexistente e perspectivas de melhora a perder de vista. Talvez esteja seno empregado na Saúde, aquilo que pagamos como imposto!

Mas, não. Hospitais sucateados, medicamentos de uso geral e atendimento humano inexistente; médicos sem chances de mostrar serviços além dos colegas com má formação, endemias e epidemias que seriam combatidas se tudo tivesse normatização, voltam a nos castigar, como se vivêssemos na Índia ou Nigéria. Nada melhora.

Nem para a segurança nosso dinheiro foi empregado. Nem com a intervenção militar a situação dos amigos cariocas melhorou: o Rio de Janeiro chora diante do caos instalado, que se recusa a ir embora. Drogas, corrupção, mortes, safadezas estão presentes por todo lado, com a desculpa de que falta muito dinheiro para por a casa em ordem.

Interessante que agora, qualquer coisa que se vá fazer ou tentar mudar, fica no valor da casa de bilhões. Essa foi um legado que a Operação Lava Jato nos trouxe: com as descobertas do dinheiro que sumia e com a descoberta da corrupção, os crimes foram apontados como na casa de bilhões. Esse dinheiro não voltará para o caixa? Ou os coitados dos corruptos permanecerão com ele? Se voltar, voltará quando? Ajudará em que? Por que não estamos vendo esta parte da novela?

O IPTU e o IPVA, por exemplo, tem que ser pago num prazo delimitado. A devolução do roubo sofre as tristes andanças das protelações processuais? Podem vir em 1, em 10 em 20 anos? Algo precisa de ajuste de prazo, não é? Quem pode nos socorrer?


E agora decidiu-se que o ensino médio pode ser oferecido 40% à distância. Eu já não perco meu tempo debatendo sobre isso, mas não posso deixar de refletir, comigo mesmo, sobre essa questão. Minha primeira dúvida: que tipo de conteúdo será ofertado à distância? Só não me respondam que será aquela parte relativa às Ciências Humanas.

Sim, aquela parte que já perdeu espaço e dignidade na escola de ensino médio e cuja perda tanto mal faz a formação do Homem, como tal. Nossos jovens já não conseguem ler em voz alta, porque já não sabem ler bem porque já não leem nada. Conhecem um ou outro clássico da literatura, porque leram a sinópse para o vestibular, mas ler sobre a História da Humanidade, isso não existe mais.

Refletir sobre a Teoria do Pensamento parece-me que ficou para os pré-Alzheimerianos ou para os malucos. Saber sobre Evolução do Pensamento é coisa de idiota. Hoje estas sabedorias estão minimizadas no Google e não cobram necessidade de saber. Aliás, saber pra quê?

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Talvez outra questão que teria seria sobre a continuidade de currículos, visto o fato que novos currículos acabam de ser implementados e não sofreram avaliação sobre sua execução e já temos mudanças a vista. Quanto tal estado de ineficiência cessará?

Nesta queda de braço, em que a base nunca é consultada, o que tem de mais incômodo é que o senhor Presidente diz que aprovará a medida e o ministro diz que não aprovará, numa troca de posições ilógica, num total descompasso na dança de poder. Será que estamos vivendo o tempo em que o poste mija no cachorro?


Como é bom ter a despreocupação latente e pulsante em nossas veias.     Diante de um país falido, perdido, sem rumo, em que filas dobram quarteirões para tomar vacina de febre amarela, filas de desempregados procurando vagas para ganhar salário mínimo, pessoas imploram para ser atendidos em espaços de urgência e emergência hospitalar, temos a maior concentração de jovens no show de música, em São Paulo.

O Lollapalooza agrupa multidão de jovens apaixonados por música.  Certamente serão jovens suíços, austríacos, ingleses e alemães que vieram curtir o final do verão brasileiro para deixar um pouco de dinheiro, no turismo. Porque nossos jovens devem estar preocupados com a situação que os espera, no longo outono da ida. Só que não…(Foto: criadoresdeconteudo.com.br)


AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.