Pesquisas recentes na área da saúde apontam que a ingestão do tomate, em particular nas massas, para molhos, possui eficiente propriedade antioxidante que varre os radicais livres e por esse motivo é associada à prevenção do câncer, especialmente de próstata e de fígado. No entanto outras pesquisas, também na área da saúde, alertam sobre os teores elevados de agrotóxicos nos produtos agrícolas, dentre eles o tomate. Afinal, ele vai ou não para a nossa mesa? Vamos então analisar alguns pontos dessa questão.

Com um pano de fundo histórico tem-se sempre um bom começo: o tomate é originário das regiões andinas, na América do Sul. Foi levado ao México, e, deste, para a Europa por conta da expansão colonial; lá passou a ser cultivado como planta ornamental com propriedades afrodisíacas, nos séculos XVI e XVII, sendo chamado de “maçã do amor” pelos franceses e de “fruta de ouro”, pelos italianos. Hoje tem grande expressão econômica e é difundido no mundo todo, pertencendo à família das Solanáceas, a mesma da berinjela, jiló, pimentão.

Pela fotossíntese, uma das maravilhas que a natureza nos proporciona, as plantas verdes transformam a energia radiante em energia química. É um processo intrincado. Em brevíssima síntese, ela ocorre nos cloroplastos, pequenos órgãos celulares presentes em grande quantidade nas folhas; a clorofila, de cor verde ou verde-azulada, é o principal pigmento existente nesses cloroplastos. Depois aparecem os carotenóides, representados pelo beta-caroteno e alfa-caroteno (pigmentos de cor alaranjada), luteína (verde-escuro), licopeno (vermelho), e outros, de acordo com a sua estrutura química.

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O licopeno é considerado o mais potente dos carotenóides, presente na berinjela, ameixa, mamão, goiaba, melancia. Mas no tomate atinge quantidades expressivas e por esse motivo foi alvo de intensas pesquisas para avaliação de sua eficiência na varredura de oxigênio e radicais livres prejudiciais. O resultado foi sua associação com a prevenção de câncer de próstata e fígado, além do câncer de mama, colo do útero, ovários etc. (Gomes, 2007, citado por Jocelem Mastrodi Salgado, ESALQ/USP, 2017).

Desta forma, quanto maior a quantidade de licopeno no sangue, menor a oxidação dos lipídios e das proteínas, facilitando a proteção das células contra os danos oxidativos que podem propiciar o envelhecimento precoce, degeneração celular, desenvolvimento de tumores e canceres.

Uma vez constatada essa propriedade do licopeno, surgiu a próxima questão: “O quanto de tomate poderia ser ingerido para se ter os efeitos benéficos? E como?” Estudos mostram que 30mg/dia de licopeno (Bowen et al, 2002) já poderia ter efeito positivo na prevenção de danos ao DNA das células (Curr Opin Nutr Metab Care, 9 (6) 722-7, 2006). O interessante é que se averiguou que as maiores quantidades desejadas de licopeno estariam no tomate processado, a conhecida “massa” para molho. A tabela mostra vários alimentos e seus respectivos teores:

Então, vemos que nossa dieta poderá se enriquecer com a ingestão de tomates, 1 porção/dia, especialmente os que são esmagados e cozidos, em molhos.

Mas por outro lado temos o uso de agrotóxicos na produção desse tomate. A lavagem e assepsia servem para limpar a casca, mas não retiram eventuais resíduos de produtos químicos, inseticidas, fungicidas que foram aplicados durante o cultivo, enquanto o tomate ainda estava no pé. A permanência dos resíduos está ligada diretamente ao período de carência para sua metabolização, pela planta: se não for respeitado, ficarão nela. Isso sem contar outros problemas de dose, tipo de produto e danos que o agrotóxico poderá causar a todo entorno…mas essa já é outra história.

A questão dos agrotóxicos no Brasil é grave: em 2016 o Brasil ocupou o primeiro lugar no ranking mundial de consumo. O Dossiê da Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) alerta que 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por resíduos de pesticidas; de acordo com sua pesquisadora Karen Friedrich e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), mais da metade dos agrotóxicos usados no Brasil hoje são banidos em países da União Europeia e nos Estados Unidos.

Para agravar a situação, o governo brasileiro concede redução de 60% do ICMS (imposto relativo à circulação de mercadorias), isenção total do PIS/COFINS (contribuições para a Seguridade Social) e do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) à produção e comércio dos pesticidas. O que resta de imposto sobre os agrotóxicos representam, conforme o advogado João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), 22% do valor do produto. “Para se ter uma ideia, no caso dos medicamentos, que não são isentos de impostos, 34% do valor final são tributos”, diz.

Esses dados mostram o quão urgente é a necessidade de rever muitos parâmetros e decisões governamentais que têm relação direta com o poder econômico das multinacionais produtoras de agrotóxicos (Bayer, Syngenta) e a saúde dos brasileiros, sejam consumidores, sejam produtores.

Colocados os “pratos na mesa”, temos claro que os benefícios naturais do tomate para nossa saúde são enormes. Se no nosso cotidiano não conseguimos o ideal, que é ter ao nosso alcance produtos orgânicos, ou pelo menos sem agrotóxicos, ainda assim consumir é melhor que não consumir, sempre usando os truques ao alcance de qualquer pessoa.

Vamos ver alguns? Um deles é adquirir hortaliças e frutas da época, aproveitando sua safra e assim, seu ciclo natural que não precisa de “estimulantes” ou “remédios”. Outro é procurar frequentar feiras, diurnas e até noturnas, ou em finais de semana. Lá procurar o tomate “do ponteiro” para fazer molhos: pela sua localização na planta são colhidos depois, recebendo também menos pulverizações. São menores, mas…tamanho não é documento, né? Aqui é sua vantagem!

E mais um truque: para todos os tomates, ao cortá-los para tirar “o olhinho”, faça um “v” em forma de cunha para também retirar aquela parte branca e verde, que prende o tomate ao pé: ali pode ser uma fonte de acúmulo de resíduos químicos.

Como dica final, preparar um molho de tomate com temperinho caseiro e alegria: serão sempre ótimos ingredientes para a boa saúde!


ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS

Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.