O PAPEL usado na documentação antiga de Jundiaí

Jundiaí abriga uma quantidade incrível de manuscritos que ajudam a contar nossa história. Como por exemplo, podemos citar as Atas da Câmara de Jundiaí de 1669, As Cartas de Datas de 1657 e o Termo de Finanças de 1751, todos depositados no Centro de Memórias de Jundiaí. O fato de os documentos terem sobrevivido desde o século XVII e estarem em excelente estado de conservação se deve muito ao tipo de papel que foi usado na produção da documentação existente em nossa cidade.

O papel usado nesses manuscritos seculares é conhecido como “Papel de Trapo” e é bastante diferente do material que usamos atualmente para confeccionar as escrituras de nossas casas, as certidões de nascimento ou o que usamos em nossas impressoras. Esse tipo de papel chegou ao Brasil com os portugueses e foi bastante utilizado durante os séculos XV, XVI, XVII e XVIII. (Foto ao lado: Flávio Portella)

A técnica para a fabricação era árabe e o papel recebia esse nome, Papel de Trapo, pois sua matéria prima era o linho e o algodão presentes nas roupas de pessoas falecidas. Muitas vezes, as famílias ficavam sem ter como reutilizar as roupas do ente querido que haviam perdido. Assim, mediante um pequeno pagamento, as fábricas papeleiras recolhiam as roupas que não seriam mais usadas. Os trapos coletados eram lavados, separados e fervidos em água para se tornarem mais flexíveis. Depois desse processo, o que restava era amassado, formando uma pasta. Essa pasta, que tinha cor amarela, era colocada em moldes para que as folhas fossem formadas. Depois de seco, o papel estava pronto para ser utilizado. O papel branquinho, como conhecemos hoje, só passa a ter essa cor a partir do século XX, quando da adição de produtos químicos na pasta que forma a folha de papel.

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Obter os trapos para fabricar o papel era uma tarefa difícil, demorada e custosa e por isso, o papel, especialmente no século XVII, era de difícil acesso e item bastante caro, de modo que poucas pessoas podiam comprá-lo, já que o papel vinha de Portugal. Assim, encontrar documentos escritos com esse tipo de papel e tão bem conservados em Jundiaí é um achado de grande importância.


KATHLIN MORAIS
Jundiaiense, mestranda em Filologia e Língua Portuguesa pela USP, técnica em conservação e restauro de documentos em papel pelo SENAI e professora de Francês e Inglês na Quero Entender – Aulas Particulares.