Que horror a selvageria acontecida nos presídios de Manaus e Roraima.  Crueldade em seu estágio máximo. As facções do crime, que atuam dentro e fora dos cárceres, voltaram a ser destaque nas manchetes: PCC, Comando Vermelho e Família do Norte.

Tenho lido reportagens e opiniões diversas sobre o assunto e penso a respeito da “capacitação” para o embrutecimento que a sociedade contemporânea oferece. Decapitar alguém, cortar as pessoas como carne em açougue, ou os autores se tornaram sem domínio sobre seus instintos ou, movidos pelo pavor de não sobreviverem, seguem as determinações dadas: ora pagamento de dívidas, ora “batismo” com o propósito de se inserirem nos grupos da criminalidade.

Há qualificação para o embrutecimento na história de crianças que crescem sob o descuido dos pais, perdidas pelas ruas, atrás de bola de futebol e, em seguida, de pipa com linha cortante. Na escola, não rendem e são colocadas em um espaço no qual não atrapalhem a evolução dos demais.

LEIA TAMBÉM

DIOCESE: 50 ANOS

REPENSANDO

Existe preparo para o embrutecimento na caminhada de púberes e adolescentes, os quais se desenvolvem sem eira e nem beira e se aprofundam nos becos da periferia, nos “pontos conhecidos” de drogas e de receptação. Pontos citados ao deterem alguém na proximidade, contudo não existe um esforço maior para fechá-los, assim como para impedir o tráfico internacional pelas estradas, pelos rios, pelo ar… Adolescentes que anseiam por vestuário e objetos de consumo, pelo prazer sem limites e pelo poder com riqueza, apresentados como sinônimo de felicidade. Evadem-se das escolas para alívio de alguns.

Há instrução para o embrutecimento na “cultura da corrupção”, com imagens fictícias de mulheres e homens bem sucedidos.  Isso também é selvageria, pois estraçalha o direito do cidadão a sobreviver com dignidade.

Existe habilitação para o embrutecimento na maioria dos cárceres destinados aos pobres, com celas superlotadas, estrutura em péssimas condições, denúncias de propina para enriquecimento de quem manda.

Não compreendo o motivo da inexistência, no sistema carcerário, desde a detenção, de uma atividade a ser desenvolvida pelos presidiários, incluindo formação, para se inserirem, em liberdade, no mercado de trabalho.

Há treino para o embrutecimento, quando as pessoas são consideradas estorvos e sobrevivem distantes de olhares que aproximam e cuidam. (foto acima: EBC)

CRIS CASTILHO VALE ESTAMARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE

Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social.