Como me edificam as vivências da simplicidade e me desanuviam o coração. Esta crônica carrega sabor de ternura. Domingo passado, seis de agosto, na “Folha de São Paulo”, o escritor Antonio Prata escreveu sobre o referido estilo literário e afirmou: o “O cronista é um pedestre… na prática o cronista trata do pequeno, do detalhe, do que está tão perto que a gente não vê”. Amo ler e escrever crônicas.
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Há poucos dias, após a Missa, um morador de rua, de saudações esporádicas, me abordou com um sorriso enorme. A falta de dentes não fez diferença, porque sorriso de verdade vem de dentro da alma. Disse-me que vira minha foto junto com um texto e que não sabia que eu era escritora. Comentou, ainda, que sempre sonhara em conhecer pessoalmente uma escritora. Senti-me agradada, no entanto lhe expliquei que não me considero escritora. Escrevo sim, porém para ser escritora, na essência do nome, é necessário muito mais preparo, criatividade e tantas coisas… O indivíduo, contudo, embora prestasse atenção nas alegações, desconsiderou-as. Insistiu que eu era sim escritora e, para ele, a maior, pois a única de proximidade. Achei o máximo o encantamento dele! Encontrava-se tão entretido comigo, que até deixou de pedir uma colaboração aos motoristas dos quais havia cuidado do carro.
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Ao final, lhe perguntei se gostara do que escrevi. Respondeu-me que não sabia ler, mas reconhecia que um texto é formado por letras desenhadas uma atrás da outra. Seria engraçado se não fosse dolorido: o sonho de identificar quem escreve, apesar da falta de chance de passar pela escola. (foto acima: wsimag.com)
MARIA CRISTINA CASTILHO DE ANDRADE
Com formação em Letras, professora, escreve crônicas, há 40 anos, em diversos meios de comunicação de Jundiaí e, também, em Portugal. Atua junto a populações em situação de vulnerabilidade social. Acesse o Facebook de Cristina Castilho