Sou obrigado a perguntar: que TIRO foi esse?

Semana passada levantei uma polêmica ao comentar sobre nosso atleta Neymar. Houve muito questionamento sobre meu ponto de vista, muitos colegas e amigos apresentaram suas argumentações e todos sempre se referiam ao fato dele ser um craque com a bola. Coisa que eu não discordei em momento algum. Não me referi a sua habilidade com a bola no pé.

Minha fala e meu posicionamento vão em outra direção: o crescimento deve acompanhar o desenvolvimento. Quando isso não acontece, temos descompassos que podem criar ciladas e oferecer discrepâncias visíveis em celebridades como ele. E nos mais simples e mortais pessoas, como nós.

As atitudes apontadas no artigo da semana passada falavam sobre o fato desagradável de ele sair sem se dirigir aos repórteres que o esperavam. Hábito costumeiro de nosso craque. Não foi a primeira vez e penso não ser a última. Mas isso reflete que algo não vai bem com o conjunto: cresceu o futebol, cresceu o corpo, cresceu a fama e não cresceu o cérebro. Ou as funções cerebrais.

O fato dele se comportar desta maneira apenas indica um comportamento infantil e uma percepção equivoca de mundo: sua fama não o libera para ser mais do que ninguém. Para estar acima de tudo e de todos. O enfrentamento com situação adversa é uma característica adulta muito bem vista e esperada em adultos, em especial, daqueles que têm uma visibilidade mais constante.

Agir como uma criança birrenta que faz bico e se esconde porque não ganhou o pirulito da vovó, no mínimo, é um gesto infantilóide. E como tal, merece ser melhor observado para que possa ser trabalhado e alterado. Atentar para a adversidade e superar o limite do ganhar-perder é uma possibilidade de se mostrar bem enquadrado num mundo onde não se ganha tudo, nem sempre.

Talvez, melhor dizendo, ter a capacidade do enfrentamento significa que se está apto para a convivência com adultos, num mundo onde as variáveis não girem em torno de seu próprio umbigo. Estes rotineiros descompassos de nosso atleta são mencionados pela crônica esportiva mundial e, muito raramente, pela brasileira que vive a luz de seus ídolos, sem favorecer a compreensão de algo a mais do que o esporte pelo esporte. Há muito mais do que um simples perder ou um simples ganhar.

A natureza humana se mobiliza para o resultado, sim, porque ela esteve presente na construção dele. Desta forma, os empenhos, as quedas, as caras de dor, as simulações de faltas, os palavrões são componentes de uma mesma pessoa que se camufla e não se permite ser questionado de nada que possa levá-lo a perceber seus deslizes.

Tivemos, ontem, a derrota de Roger Federer, numa partida emocionante e brutal, num tempo logo e com um desfecho inesperado. Terminada a partida, Federer, um gentleman, respondeu aos questionamentos da mídia, enalteceu o vencedor (reconheceu os valores técnicos e táticos do jovem adversário) e desculpou-se para seu público. Talvez aí esteja a questão: Roger Federer, um gentleman.

Em relação direta com o assunto, as Ciências do Esporte vêm observando, por longas e duras vezes, que nossos atletas necessitam investir mais em si: mais iates, mais baladas, mais propagandas, mais jatinhos, mais mulheres, mais dinheiro e mais psicologia para gerenciar sua Natureza.


E que final de semana foi aquele da semana passada? Aquilo existiu? E solta o Lula. E mantém o Lula preso. E solta o Lula. E mantém o Lula preso. E solta o Lula. E mantém o Lula preso. Brincadeira? Insulto? Afronta? Jogo de poder? Desmerecimento da questão? Descaso com o povo? Excesso de poder? Falta de noção? Idiotice? Fanfarronice?

E ainda perguntam: o povo brasileiro acredita em justiça? Será que temos motivos para confiar ou precisamos ter dinheiro para pagar as melhores juntas de advogados e lutar contra o improvável? Como descansar ou como permitir que as coisas cheguem a este ponto, sem temer com aquilo que pode acontecer com a população em geral?

Absurdamente abusiva a atitude daquele senhorzinho que, com o poder de sua caneta, perdeu horas de seu dia e afrontou espaços de nossas vidas com suas brincadeiras de mau gosto. Seu tendencionismo foi mortal, doentio, abusivo e pôs em risco a credibilidade da Justiça, que todos tanto precisamos. E ficará arranhada até que alguma atitude muito bem moldada seja tomada, de modo a entendermos que não se brinca com coisas sérias: não se espera uma advertência nem uma suspensão. Espera-se algo que demonstre o tamanho e a seriedade que o fato mereceu. Chega de brincar com o povo, meu senhor.


E a USP vai às mídias falar de seu desmanche e da rotina de evasão de cérebros. Fala ainda da formação de novo batalhão de profissionais que possam recolocá-la em seu perdido patamar. Sério isso; primeiro pelo reconhecimento da perda do status, depois por apontar as saídas dos pesquisadores e finalmente por mencionar que a formação está deixando a desejar.

Pois é, num outro ângulo, também já mencionei aqui, a educação básica, os ensinos fundamental e médio estão cada vez mais frágeis. Acreditar que o ensino possa atender a toda a população de um país com tamanho continental, mantendo a mesma matriz, é no mínimo desconsiderar as características contextuais que podem vir a ser debatidas ou por David Ausubel ou por Urie Bronfenbrenner, um da abordagem da Aprendizagem Significativa e outro da abordagem da Psicologia Bioecológica.

Quem serão os professores que abraçarão estas causas e com quais formações isso será realizado? Será a volta de cartilhas para docentes, para que garantam o nivelamento do conteúdo ou viveremos um autodidatismo em que novos iluminados conduzirão nossos jovens para além do verniz do saber?

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É bom que a USP esteja de fato preocupada com a formação de seus mestres, sejam eles dos níveis que forem, como seria bom que as suas duas irmãs paulistas (UNESP e UNICAMP) também assim estivessem. Como seria excelente que as instituições formadoras de educadores, de conglomerados privados tivessem olhos para isto.

Estamos falando de sair do lodo. Lodo em que entramos, chafurdamos e não encontramos meios de parar em pé, tal nível de desarranjo em que nos encontramos. Nunca tivemos tantos mestres e doutores e especialistas. Mas especialistas e mestres e doutores em que, se não conseguimos dar conta de uma sala de aula com quarenta alunos e cuja diretividade curricular está desfocada e desaparelhada da realidade social?

Pensar que Paulo Freire já cantou esta toada em seu magnifico Educação como Prática da Liberdade, na década de setenta, do século passado. E que na atualidade poucos educadores ou formadores conhecem as obras de Paulo Freire. Nem sabem como aplica-las. Mas não sabem também de Marx (sim, Karl Marx que todo docente engajado e modernoso diz conhecer), nem Manacorda, nem Polantzas. Tão pouco Adorno ou Horkheimer.

Se isto se constata, sabe de que, o nobre colega? Não domina seu conteúdo, não domina sua História, não domina sua Cultura…domina o quê? Desta forma fica difícil pensar em mudanças substanciais. Fica quase impossível pensar na evasão de cérebros e mais difícil pensar em quem formará os próximos educadores.

Lamento concluir assim, mas…que situação!!!!


AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.


 

Foto: camaroteleonino.blogs.sapo.pt