Tese prevê parques FLUVIAIS em toda bacia do rio Jundiaí

A jundiaiense Luci Merhy Martins Braga(abaixo) apresentou a tese ‘Sistemas hídrico e territorial integrados a partir do eixo do rio Jundiaí’ na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp. A pesquisa dela mostra o zoneamento de áreas propícias para implantação de parques fluviais. A entrevista com a engenheira sanitarista e doutora em engenharia:

parques fluviais

O que seriam parques fluviais no rio Jundiaí?

Pode-se dizer que o conjunto composto pelo patrimônio ambiental e pelo patrimônio cultural, no sentido lato de cada respectivo termo, confere a um território a sua essência, ou a aura que o caracteriza, sua identidade. Os parques fluviais, além de constituírem uma estratégia de uso e proteção das margens de um curso d’água, podem representar um novo modelo de desenvolvimento territorial a favor da sustentabilidade e do respeito às identidades locais. Possuem a dimensão de um sistema espacial que tem nos cursos d’água os componentes primordiais do sistema configurado pelas bacias hidrográficas correspondentes. O rio Jundiaí se qualifica como manancial propício para a implantação de parques fluviais devido às características que lhe são próprias, conforme o que apresento na  minha Tese.

Quantos seriam? E onde seriam?

São muitas as áreas propícias para a implantação de parques fluviais na bacia do rio Jundiaí, conforme os mapas-síntese da minha tese. A rigor, é importante entender que, utopicamente, toda bacia hidrográfica deveria ser considerada um grande parque fluvial. Como isso não é possível, um dos objetivos da minha tese é propor o zoneamento de áreas propícias para a implantação de parques fluviais na bacia do rio Jundiaí a fim de promover a sua gestão sustentável.

Na prática, no que implicariam para a região?

O binômio patrimônio-paisagem concebido como uma mola material de uma sociedade sobre seu ambiente adquire destaque e tem se convertido em instrumento de promoção econômica, sobretudo nas análises mais significativas dos projetos de Parques Fluviais em todo o mundo. Pode-se concluir que a gestão dos recursos territoriais visando seu ordenamento com foco nas dimensões econômica, social, ambiental e cultural da água é um fator chave que atrai turismo, investimento, gera atividades e postos de trabalho, mas o principal é que reforça a autoestima da comunidade local.

Para o internauta entender: já existem parques fluviais em outras cidades? Onde?

Existem muitos Parques Fluviais em todo mundo como o Cheonggyecheon em Seul, Coréia do Sul, e na minha tese cito alguns que tem importância relevante como estudo de caso para o território da bacia do rio Jundiaí como: na Espanha, o Parque Fluvial do Llobregatt, o Parque Fluvial del Besos e o Parque Fluvial Cardener; na Alemanha, o IBA Emscher Park (apenas para citar alguns dos mais importantes). Todos são considerados exemplos de sucesso e de melhoria de qualidade de vida da população, além de promoverem a preservação dos recursos naturais.

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Quais aspectos do território são considerados na sua pesquisa?

Um dos objetivos da tese é detectar as convergências e divergências entre o Plano da Bacia Hidrográfica do rio Jundiaí e os Planos Diretores Municipais dos 11 municípios presentes na bacia, cujos territórios no todo ou em parte compõem a bacia do rio Jundiaí. Há de se respeitar o universo de exigências e informações presentes nos planos de acordo com os órgãos que os regem (municípios e comitê de bacias),  e detectar elementos de ordenamento territorial com potencial maior ou menor na hora de compor um parque fluvial, pois na sobreposição dos planos (de bacia e diretores) é possível encontrar essas áreas propícias. Cabe ainda caracterizar as dimensões econômica, social, ambiental e cultural da água, seu status de patrimônio da humanidade, a valoração que se lhe atribui e a conversão do patrimônio hídrico em recurso hídrico.

É evidente a importância do rio para a agricultura e indústria. E o que representa para os aspectos social e turístico?

O desenvolvimento sustentável deve promover uma boa articulação entre a gestão dos recursos hídricos com a gestão do patrimônio (ambiental e cultural) no âmbito de um determinado território; e o Parque Fluvial constitui-se como um instrumento capaz de fazer isso. Portanto, reconhecer o patrimônio no contexto da regulação do uso e ocupação do solo é essencial, como instrumento de planejamento visando o desenvolvimento territorial em áreas de intervenção muito diversas e capazes de articular os apectos sociais e turísticos da bacia.

Como cada cidade que faz parte da bacia lida com o rio? Todas estão indo no mesmo caminho ou ainda há muitas divergências?

As divergências entre as cidades não são significativas. A região da bacia do rio Jundiaí (ilustração abaixo) apresenta uma intensa urbanização e industrialização e há sobreposição com áreas de conservação que se integram (APA Jundiaí, APA Cabreúva e APA Pedregulho em Itu) para a proteção da Serra do Japi, com alguns importantes remanescentes de mata nativa na sub-bacia do Rio Jundiaí-Mirim, que é manancial de abastecimento do município de Jundiaí. A bacia do rio Jundiaí faz parte da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do estado de São Paulo (UGRHI-05) com gestão do comitê de bacias PCJ e é uma sub-bacia do Rio Tietê, sendo este, por sua vez, uma sub-bacia do rio Paraná. As bacias PCJ contam com 76 municípios e 5,2 milhões de habitantes. A bacia hidrográfica do rio Jundiaí conta com 11 municípios e perto de um milhão e quatrocentos mil habitantes. Abriga um parque industrial muito forte, principalmente em Jundiaí e Indaiatuba, mas conta também com uma agricultura razoável. Com um território muito ocupado por áreas urbanas, a bacia do rio Jundiaí  apresenta uma realidade complexa e diferente em cada um dos seus municípios, cuja compreensão requer uma análise cuidadosa sobre os respectivos planos (de bacia e diretores municipais) sobrepostos, conforme a figura abaixo:

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A cidade de Jundiaí é considerada uma referência em saneamento básico no estado de São Paulo e no Brasil. Uma população de 405.740 habitantes segundo o IBGE distribui-se sobre uma área territorial de 431.173 km² e na metade do século XX, descobriu sua vocação industrial. Jundiaí coleta 98% do seu esgoto e trata 100% do esgoto coletado, com eficiência de remoção de 92% de carga orgânica tratada; o esgoto final é lançado no rio Jundiaí. Graças à despoluição do rio no município de Jundiaí (desde 1984) e, mais recentemente nos municípios de Várzea Paulista e Itupeva, um novo trecho do rio passou a ter melhor qualidade de água e tornou possível a captação de água bruta para o abastecimento de Indaiatuba pós-tratamento. As inaugurações das Estações de Tratamento de Esgoto de Itupeva e Várzea Paulista – pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), entre 2012 e 2014 – foram fundamentais para a melhoria na qualidade da água do rio Jundiaí. Um rio que era altamente degradado, transformando-o em manancial de abastecimento público e beneficiando toda a Bacia do Rio Jundiaí. Um rio como esse merece um Parque Fluvial depois dessa trajetória.

 

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O rio – agora despoluído – será o principal manancial para cidades com Várzea Paulista e Itupeva, que não contam com grandes reservatórios?

Sim, o rio será importante para toda a bacia, todavia será principalmente importante para Indaiatuba que já está captando água para o abastecimento.

 

Quando foi a defesa da tese?

Toda a Pesquisa foi realizada no Laboratório de Engenharia de Empreendimentos – (Labore) – sob orientação do Prof. Dr. André Munhoz de Argollo Ferrão (Unicamp). A defesa da tese se deu no dia 15 de fevereiro último, na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo – Unicamp.

Como você se saiu?

A tese foi muito bem recebida pela banca examinadora composta por três engenheiros (Unicamp e Universidade Federal do Ceará) uma arquiteta urbanista (USP) e um geógrafo (CNRS-França e USP). Todos eles expressaram o desejo de ver a continuidade do trabalho e sua expansão para outras bacias hidrográficas em São Paulo e no Brasil. A banca mencionou a importância dos desdobramentos que a aplicação dos resultados da tese traria para o desenvolvimento territorial na bacia do rio Jundiaí, tendo em vista a relevância do método e do tema em si.

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Existe a possibilidade desta tese vir a se concretizar?

Como engenheira sanitarista e doutora em engenharia civil na área de recursos hídricos, energéticos e ambientais eu digo que sim. Os desdobramentos são viáveis e dependerá dos municípios e comitê de bacia. Temos capacidade técnica para orientar a concepção, projeto e gestão de parques fluviais.

Pretende encaminhá-la para as autoridades do setor?

Sim. Já tenho planos para isso.