Semana muito tensa e intensa. Trocadilho sem graça. Não há motivos para rir. E sem graça está sendo a semana em andamento: bastante atípica e pouco produtiva. Chego a pensar que não acordei na segunda feira e que vivo num estado de torpor, diante de tudo ou de quase tudo, projetando o que vem pela frente.

Infelizmente fica difícil tentar imaginar se haverá uma luz no final do túnel, pois corremos o risco de não encontrarmos nem o túnel, se vacilarmos ou se não prestarmos devido cuidado. Vai que nos roubam até o túnel ou nos impeçam de ver a luz. Vai que…


E a semana começa com os meios de informações divulgando o retorno dos trabalhos no Congresso Federal. Simulações de contagens de votos dos deputados, falas de líder de partidos, jantares, almoços, mais valores, mais dinheiro, mais números de votos, mais indecisões, mais propostas e menos segurança.

Terça-feira foi um dia de muita decisão, para um país da envergadura do nosso. O número de deputados presentes permitiria a votação? Os partidos votariam fechado? As promessas seriam mantidas e cumpridas? A oposição cumpriria sua promessa? Haveria cuidado com a ética, com a moral e com a população que sustenta o congresso?

Depois de alguns discursos insanos, de algumas crises de histeria e demonstração de psicopatias, tudo se acertou, a causa foi vencida, o povo foi frustrado e vencido, as lideranças mentiram (de novo), os deputados fizeram seus malabarismos (de novo), a governabilidade está garantida e nada se altera. Apenas a possibilidade de nova taxação de impostos e alterações na aposentadoria.

Mas tudo dentro do esperado e do ameaçado. Realmente todos estão envolvidos na proposta de autoproteção, de modo que não se muda nada daquilo que for proposto, ao contrário: aprova-se rapidamente para entrar em nova demanda e em nova possibilidade de trocar o voto por benesses. Tudo bem brasileiro, tudo bem imoral. Nada se transforma, nada se estabelece, nada se volta beneficamente para a população.

Decepção, dor, insatisfação, indignação e futura apatia: estamos encurralados, sem horizontes a vislumbrar e sem possibilidade de retomar a Vida. Triste momento brasileiro.

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Enquanto isso, a mídia esportiva, lógico: a mídia esportiva, nos bombardeia com detalhes sórdidos e nefastos da transferência ou venda ou leilão ou sei lá o que do ilustre brasileiro Neymar, que muda de um clube milionário para um milionário clube. Somos afrontados com valores e detalhes desta inusitada e nojenta transferência.

Sem analisar se ele vale isso ou se ele não vale isso, mas lembrando que o momento é de intensa revolta e muita dor de um povo sofrido, machucado, violentado e oprimido. Tudo o que mais se quer é um momento de trégua e menos aumentos das coisas do dia a dia e menos ostentação. Sim, o Neymar TAMBÉM não nos representa; possivelmente ele não se represente nem a si próprio, pois ele vive numa bolha que não garante visão de mundo.

Repito: e a mídia gastou ao menos 60% de seu espaço para comentar sobre esta mudança de valores e de status. Como se estivéssemos diante de uma das maiores e melhores propostas de avanços na área da saúde ou da educação ou da segurança do país, que mergulhou no caos. Nem uma palavra ou linha que analisasse a questão, apenas exaltações. Apenas exaltações.


Lamento tamanha cegueira diante dos problemas socioeconômicos que nos assola e mais dor me dá perceber que os desavisados estão vibrando e se embebendo com tamanha discrepância orçamentária e salarial, como se isso mudasse a situação individual de cada brasileiro que já paga tantos impostos e ainda tem tão pouco.


Para coroar minha manhã de quinta feira, sou levada a ouvir em telejornais que o goleiro Bruno, sim…aquele, vai atuar numa escola de futebol, ministrando aulas para jovens aprendizes.  Diante desta sequência de situações, fico muito em dúvida se aconselho aos meus alunos que se voltem totalmente ao futebol ou se devem desenvolver um novo método de ocultação de corpos ou se aperfeiçoem nos dois anteriores. Pois somente estudar e brilhar nos estudos já não leva ao túnel nem permite ver a tal luz, que sempre nos ensinaram que existia e seu fundo. Mentira…não há mais túnel e tão pouco existe esta luz; o que existe é uma safadeza e de sensatez diante de questões de magnitude fundamental para estruturar um país que se pretenderia ser sério.

Desculpem-me, sinto nojo da situação.


Noticiários televisivos ou jornal impressos da comunidade europeia e da América do Norte apontam para nosso país como algo a ser mantido longe. País onde deputados votam de maneira diferente de acordo com agrados pessoais ou partidários; país onde se muda de opinião, sem fundamentação coerente e forte, mas a baila de interesses outros; país que não pode ser visto com seriedade.


Enquanto isso, alguns cérebros bem estruturados que se evadiram da república das bananas ocupam altos cargos nos mais renomados centros de estudos e pesquisas do Mundo: chefiam equipes em grandes hospitais de ponta, na Europa ou América do Norte, sem pensar em retornar ao Brasil, porque aqui nada funciona. Compõem equipes de pesquisas inovadoras e pontuais em laboratórios que dependem de seus saberes, mas que não deram sorte ou não tiveram chances por estas bandas.

Estes dados são pouco comentados, porque ninguém quer saber deste tipo de notícia, o que interessa ao nosso país é o lucro do Neymar Pai e Neymar Filho ou esperar que o congresso acabe com a aposentadoria do povo e com o país, na sequência. E ainda morremos de gonorreia, tuberculose e dengue.

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Esta semana conseguiu destruir parte de minha autoestima. Canso de lutar por um país e um povo que são meus, mas que não reagem nem se ocupam de saber mais e escolher melhor seus líderes. Cansei e por, isso, por hoje é só.

Meus pêsames, Brasil.


RIRAFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.