Será que o sério existe no país das FANFARRONICES???

Quanto se fala e quanto se faz daquilo que é falado? Percebo, dentro de meu universo de atuação, que os mimimis são muito superiores do que os feitos, o que deixa qualquer ser humano extasiado e sem ação. A bola da vez é debater e criar espaços para se falar das tais fake news. Todos os canais já criaram programas de debates, analistas já se manifestaram, estudiosos já argumentaram, a população já decorou alguns discursos, todos dizem odiar as fake news e…e elas ai estão. Mas será que o sério existe no país das fanfarronices?

O mais interessante e o melhor, inclusive, que elas estão nas bocas e nos gestos dos estudiosos e pesquisadores que foram ao ar, em programas dito sérios. Elas apresentam roupagem exuberante e ganham peso de notoriedade, justamente por virem das bocas dos renomados televisivos.

Vejamos: quem vem a público dizer que nossa inflação é menor do que a inflação da Noruega? Ou da Áustria? E dizem isso com cálculos que enfiam goela abaixo da população, sem dó e sem sombra de dúvidas. Quem faz isso? Os notórios jornalistas que lutam contra as fake news (daqui em diante chamaremos de FN).

Trazer uma notícia vergonhosamente mentirosa, acompanhada de cálculos e teorias não é uma FN? Não é tão ou mais criminoso do que aquelas noticiazinhas de pouquíssima importância que todos correm para noticiar em canais abertos e se dizerem ‘absurdados’? Não é mais perigoso que trotes em celular?

Pois é, as coisas caminham assim por toda nossa volta. O índice de analfabetos aumenta drasticamente, mas apontam um número de matrículas que busca superar o buraco negro da educação. Mas continuamos a produzir analfabetos letrados. Isso não apontam, não comentam, não notificam. Os números vantajosos não são piores do que a maior das FN?

Vemos o debate sobre a Previdência. Sim, é sério o rombo. Mas e os aumentos descabidos de salários de certos escalões do governo, cujo teto já é superlativo e qualquer aumento traz consigo uma evolução em cascata, que atinge salários família, moradia, guarda-roupa, deslocamento, assessoria? Isso é normal ou isso é FN? Esta desavergonhada realidade se enquadra em que nível de maldade ou de vadiagem ou de periculosidade, diante da miséria em que o povo se encontra? E tudo tem seu espaço e tempo de veiculação pelos canais de notícias, tudo vem muito bem ilustrado e diluído de modo que todos possam entender. E sofrer de ódio, claro.

O que dizer de planos de governos que nunca saíram do papel e que os assessores ligam para perguntar sobre a opinião que o morador tem daquela questão? E quando você retorna a resposta em forma de pergunta, o infeliz do pesquisador fica sem saber o que falar e acaba por desligar o telefone, atribuindo sei lá que conceito ao nosso posicionamento.

E o que pensar de professores que entram em sala de aula, para iniciar o semestre, com planos de curso que não são capacitados a administrar, porque não têm formação para tudo aquilo ou porque desconhecem o assunto ou ainda por não terem leitura para voo tão alto? Isso é FN? Ou isso é safadeza deslavada, também, tanto quanto as demais acima apontadas?

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Desta forma, falar em combater as FN, no Brasil, vai gerar uma higienização ‘desgramada’, porque teremos que combater todas as mentiras oficiosas que nos são dadas pelos órgãos de notícias, pelas imprensas oficiais, pelas instituições responsáveis pela pesquisa de opinião do país e, com isso, destruímos tudo o que temos e que julgávamos sério.

Que triste!!!

Existe meia medida? Sim, claro. Meia medida seria conviver com meia verdade. E quem aplaude meia verdade está aplaudindo a meia mentira, por tabela. Então, fica difícil falar em moralidade, em ética, em compromisso social, em cidadania…esses projetos vão para o chão e se perdem, porque serão vistos pela metade e serão tragados pela improbidade da outra metade.

Tenho aconselhado, deliberadamente, a meus orientandos que estão estudando fora do país que cumpram seus estudos, empreguem-se por lá, retornem para fechar suas contas por aqui, mas voltem para o exterior em busca de algo que não se desfaça no ar. Nunca pensei que chegaria a este nível de articulação, mas não estou enxergando nada que me faça confiar numa revirada de poderes e na consolidação do sério. Desta maneira, saída emergencial à vista.

Àqueles que estão atentos, o universo de candidatos e as perspectivas de resultados estão quase às mostras. Que sejamos poupados de infortúnios, mas as saídas são as pouco interessantes para quem espera mudanças, autonomias e avanços. Um regime de trevas e inseguranças nos esperam. Será uma FN? Não!!! É uma constatação. Afinal, o que é sério, num país de tamanha fanfarronice? (Foto: ecommercenews.com.br)


AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.