Penso que uma injustiça fácil de corrigir é essa: celebrar de verdade, assim como o 8 de março, o Dia do Homem. No Brasil, a data é comemorada em 15 de julho. No mundo, 19 de novembro. Mas não tem o mesmo apelo que o Dia das Mulheres.

Há séculos o homem foi ensinado que Deus o criou primeiro e, de apenas uma parte do seu corpo fez a mulher, portanto, ele é o primogênito, o ser humano macho que deveria reinar no Universo.

E assim foi. Vemos ao longo da história esse homem assumir e decidir tudo na sociedade, na vida do casal e na família, ele é quem escolhia com quem queria se casar, o local para morar, enfim, o homem decidia tudo!

De geração em geração, transmitida pelas tradições, a história se repetia: o homem reinava sozinho sobre tudo e sobre todos. Ponto.

Isso gerou muito estresse no cotidiano. Não aquele estresse de nossos antepassados das cavernas, que necessitavam caçar, lutar ou fugir, mas, aquele que se repete diariamente devido ao acúmulo de pequenos ou grandes problemas, ou seja: contas a pagar, desemprego, doenças, entre outros. Essas situações corriqueiras elevam, discretamente, a pressão arterial e os batimentos cardíacos que, em longo prazo, produzem resultados nefastos ao organismo.

Já, a mulher na família e até na sociedade era uma coitada, não tinha nenhum valor, era desprestigiada, considerada um ser inferior, sem capacidade para exercer alguma profissão ou para participar de decisões na sociedade, impedida de votar e ser votada. Em algumas civilizações era considerada desprovida de inteligência.

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Talvez, em face disso, por pena da situação feminina, e talvez para impulsionar as vendas no comércio, a sociedade elegeu uma data para homenageá-las. Tanto faz o motivo, o resultado é que temos mais um dia para fazer compras.

Tudo era decidido pelo homem, o pai ou o marido e, até os irmãos mais velhos! Essa cultura era construída desde cedo para que o homem dominasse tudo, com mão de ferro. Não lhe era dado a oportunidade de expressar seus sentimentos, fosse de amor e ternura ou de tristeza (“homem não chora”!).

No campo das relações sexuais, cabia ao homem e, exclusivamente a ele, a iniciativa de “possuir” a mulher e de somente ele ter prazer. E cabia a esse homem dominador, a responsabilidade de ter e obter cada vez mais bens materiais e cuidar da família. O seu valor pessoal era medido por seus bens e pela quantidade de dinheiro que possuía.  Esse homem evoluía achando que era o “tal”, e o resto (sua mulher, seus filhos, e outros dependentes…) devia se submeter às suas vontades.

Quanta coisa mudou, não é mesmo?

A partir da Segunda Guerra Mundial as mulheres ganharam espaço e os homens…perderam espaço, concordam????

Claro que não! Os espaços são apenas sobrepostos ou complementares, mas, essa situação ainda é nova e muitos homens podem apresentar crise de identidade, uma sensação de falta de propósito e, muita angústia. A angústia desses homens é com os desafios para desempenharem bem os seus novos papéis, em especial, o de parceiro. Ele não estava acostumado com a parceria, ele era o dono, o chefe, o todo poderoso.

O homem deixa de ser o detentor do pátrio poder, não é mais o “cabeça” do casal, passando a mulher a contribuir de modo igualitário com ele na manutenção da família. Às vezes até invertendo os antigos papéis, inclusive, na intimidade, pois, agora ela toma a iniciativa, manifestando o seu desejo. Isto pode ser um pouco confuso para alguns desavisados, principalmente, por que tem o Rodrigo Hilbert na televisão e nas mídias sociais, mostrando o patamar que um homem moderno pode alcançar.

Eis um elemento complicador para o homem. Diante das novas obrigações, o atual papel na sociedade não exige mais, ou melhor, NÃO QUER MAIS, que ele tome para si a responsabilidade sobre tudo. A mulher a chama para si e o homem deveria dividir com bastante liberdade, pois, com esse compartilhamento de funções, deixaria de liderar o ranking de doenças cardiovasculares, principalmente, devido ao acumulo de estresse.

Segundo um artigo publicado no Therapeutic Advances in Cardiovascular in Disease (Avanços Terapêuticos em Doenças Cardiovasculares), as mulheres apresentam de 30 a 40% mais chances que os homens de desenvolverem doenças cardiovasculares com o mesmo nível de pressão arterial, embora eles sejam, naturalmente, mais predispostos ao estresse, enquanto produzem mais cortisol do que elas. Submetidas a estresse pelo acúmulo de funções, afinal elas QUEREM conquistar o que sempre foi do homem, o quadro piora. Nada contra, mas o fato concreto é que elas sofrem mais devido à sua característica multitarefa, situação bem diversa da dos homens.

A crise de identidade aumenta para eles quando descobrem que precisam ter um novo papel em suas intimidades com a mulher, pois, ela exige uma busca conjunta do prazer na relação do casal. O homem tem que ser, suficientemente sensível, para diferenciar o clitóris do resto da anatomia vaginal e localizar o ponto G, que até mesmo a ciência tem dificuldade em encontra-lo. A mulher hoje é muito exigente!

O varão está aprendendo a liberar suas emoções, sem medo (ou com menos medo) de perder a imagem de “homem”, e não ser avaliado como um fraco. Aprenderam a expressar o que sentem, a dar carinho, ternura e afeto à mulher e aos filhos. Lavam e passam. Cozinham divinamente bem. Com esse aprendizado, o homem precisa criar coragem e romper estereótipos como: “homem não chora”, “homem é frio”, “homem não sente medo”, “homem não demonstra sensibilidade, delicadeza, gentileza, etc”.

Toda e qualquer mudança ou evolução sistemática, são dificuldades a se enfrentar e, como todo desafio, gera insegurança quanto ao desconhecido. Alguns permanecem indecisos quanto à validade e necessidade da mudança. É mais confortável ficar onde está.

Certamente, será a mulher, eterna companheira do homem, que valorizará esse ser nascente: cordial, humilde, paciente, com sensibilidade, compreensão e empatia. O verdadeiro parceiro.

É tão notória a falta histórica de cuidado com relações, principalmente as íntimas, que o homem possuía o que Rachel de Queiroz escreveu: “Fala-se muito na crueldade e bruteza do homem medievo. Mas o homem moderno será melhor?” Publicado no livro “As Terras Ásperas”, em 1993.

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Respondo após 24 anos: acredito que sim, Sra Raquel! As transformações são necessárias. A evolução nos impulsiona a adequar as relações sem precisar embrutecer a mulher ou sensibilizar demais os homens. A questão não é essa. A base dessa revolução é o respeito. Não precisamos discutir em demasia nossos papéis, mas adequá-lo à nova realidade.

Idealizamos um homem que com a mulher, em qualquer situação, seja de casal, profissional ou social, estabeleça uma relação de igualdade e de respeito. Um homem com entusiasmo pela vida, mesmo que haja dificuldades como o desemprego. Um homem com sentimentos de esperança, de confiança e de coragem para enfrentar quaisquer dificuldades, mas, que assista ao programa do Rodrigo Hilbert para deixar de fazer este tipo de palhaçada:

elaine 2

– Querido, vou me atrasar… Põe o frango pra descansar na pia com cebola e pimenta! Quando chegar eu faço o resto da receita!

– Ok, amor!(foto acima: redes sociais)/(foto principal: dizcorrendo.com)


elaine 2ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora