Pesquisas, FOMENTO, pequenas empresas e melhorias ambientais

Já com texto quase pronto para essa semana, ouço no rádio um programa sobre pesquisas, no Brasil. Mais especialmente sobre os 20 anos de existência do PIPE, ou Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, programa de fomento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) em que a cada três meses, um novo edital é lançado pela Fundação, em busca de projetos variados em fases iniciais do desenvolvimento tecnológico, até hoje com 1.788 projetos contratados.

Tem efeito arrebatador: ponho o já escrito no fim da fila, com a mente já alinhavando para o novo texto as informações que mais chamaram a atenção e que possam trazer melhorias na área ambiental, mas não só. Vejamos.

Várias universidades têm centros, as incubadoras, que são, a grosso modo, a origem de startups: empresas, principalmente na área de tecnologia, que estão ainda em formação e necessitam de fomento para que possam dar o ponta-pé inicial. São várias fases, projetos e submissões, até que algo seja concretizado, quase um “amadurecimento” daquela idéia que se tem no decorrer dos anos de estudo, nas tantas áreas de conhecimento.  Aqueles estudantes que, sabendo a demanda da sociedade e do mercado, um dia se perguntaram, seriamente: “Cara, e se a gente fizesse isso acontecer? Vamos atrás?”

Olha só essa: a Nanox. Ela tem como origem alunos que se graduaram na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cidade que hoje sedia a empresa; é voltada para produção de antimicrobianos utilizando micropartículas de prata, criando materiais inteligentes a partir da nanotecnologia. Nanotecnologia é o desenvolvimento de tecnologias em escalas muito pequenas. Mas muito mesmo, quase inimagináveis: um milionésimo de um milímetro, ou seja, dividindo um milímetro por um milhão (1000000), chegamos a um nanômetro… (abaixo, imagem de nanopartículas de prata obtidas em microscópio eletrônico de varredura e coloridas artificialmente/revistapesquisa.fapesp.br).

FOMENTO

Trabalhando-se com essa escala, materiais, como os plásticos, vão oferecer aptidões até então não imaginadas, como prolongar a vida de prateleira (em inglês, “shelf life”) dos alimentos, ao mesmo tempo aumentando a segurança alimentar destes. Um exemplo? Já está sendo implantado na produção de embalagens que acondicionam o leite fresco, pasteurizado, que conservarão por mais tempo o leite ali embalado, aumentando o tempo de consumo com segurança. Isso é uma vantagem para toda a cadeia: desde a valorização do leite, como produto da ordenha, até evitar ao máximo o seu descarte, pelo seu não consumo e conseqüente deterioração.

OUTROS ARTIGOS DE ELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS:

FRAGILIDADE AMBIENTAL: O CASO DA ILHA DE PÁSCOA

ALIMENTOS ORGÂNICOS E NATURAIS NÃO SÃO A MESMA COISA?

O HIPOPÓTAMO E A PERIGOSA EXPOSIÇÃO AOS AGROTÓXICOS

MODAS CAIPIRAS PARA COMEMORAR O DIA DO AGRICULTOR

MAS O QUE É ESSA TAL DE CERTIFICAÇÃO AMBIENTAL?

OS PAMPAS E A CAMPANHA DA FRATERNIDADE DESTE ANO

ÁGUA E ÁRVORES, A PARCERIA QUE GERA VIDA

A SAÚDE E OS AGROTÓXICOS: UM POUCO DE HISTÓRIA

O que mais me encantou foi uma forma de evitar o desperdício, em especial do leite, que está além de um simples produto: é feito organicamente, rico em nutrientes. Muito precioso para ser paulatinamente descartado nas pias e esgotos, cena comum de nosso cotidiano.

Como pesquisa, fomento e competência são universais, já obtiveram registro da agência reguladora norte americana, a Food and Drug Admnistration (FDA) para comercializar lá os materiais bactericidas aplicáveis em embalagens plásticas. Wow!

Outra é a PROMIP, “MIP” de manejo integrado de pragas. Fundada em 2006, ligada à ESALQTec, incubadora da ESALQ/USP, surgiu entre os seus estudantes, também recebendo fomentos do PIPE para suas atividades. Elas giram em torno da pesquisa e produção de agentes biológicos (predadores, patógenos – agentes microscópicos como vírus, bactérias que podem causar doenças) para atuar no controle de pragas, utilizando o manejo integrado, que agrega também ferramentas como extratos de plantas, entre outras.

Em 2010 ela foi considerada a primeira biofábrica brasileira que obteve registro para comercialização de ácaros predadores para controle biológico de pragas na agricultura, e isso não é pouco. A atuação deste produto foi inicialmente na horticultura, para morangos, tomate etc. E nesse ponto teve a minha admiração, pelo fato da questão dos agrotóxicos. Explico-me: sabe-se que um dos grandes problemas na utilização dos pesticidas na horticultura é não haver produtos específicos para determinadas infestações que ocorrem, muitas vezes severas, que podem comprometer toda a produção e causar grandes perdas ao horticultor, normalmente pequeno agricultor. (abaixo imagem de ácaro rajado/www.promip.agr.br)

FOMENTO

E é nesse momento que há a aplicação de agrotóxicos diversos naquela ou em outra cultura, que pode causar os efeitos danosos que conhecemos. Atribuir ao agricultor toda a culpa, se não há produtos disponíveis no mercado, é no mínimo temerário; ainda, essa é uma demanda que já vem há muito tempo perante pesquisadores, extensionistas etc. Portanto, trazer ao produtor uma solução à sua necessidade, com o controle biológico, nesse caso, os ácaros, que podem ser usados em culturas sob sistema convencional ou orgânico de produção, é de fato um alento!

Há várias outras, outrora startups, como a Griaule, hoje Nexxto, que trabalha com a internet das coisas, a Altave, indústria aeroespacial, ou a In Vitro Brasil, com embriões bovinos. Fantástico! Seguem alguns links, abaixo, para quem se interessar.

Finalizamos aqui: essas são notícias que fazem bem para gente. E há muitas delas por aí. Esses meninos e meninas arregaçaram as mangas e não sucumbiram ao vaticínio insistente da mídia, amigos, parentes, sociedade: que não ia dar certo, que “… vc está no Brasil!”. É, eles estão no Brasil. E tropeçaram, erraram, duvidaram. Mas insistiram e acreditaram não no tal “complexo de vira-lata”, mas no fazer a coisa certa, com entusiasmo. Taí. Para terminar com a música sugerida por um dos sócios da Nanox, vai o “Tente Outra Vez”, do Raul Seixas, grande Raulzito!

PARA SABER MAIS:

JORNAL DA USP

REVISTA FAPESP


FOMENTOSELIANA CORRÊA AGUIRRE DE MATTOS

Engenheira agrônoma e advogada, com mestrado e doutorado na área de análise ambiental e dinâmica territorial (IG – UNICAMP). Atuou na coordenação de curso superior de Gestão Ambiental, consultoria e certificação em Sistemas de Gestão da qualidade, ambiental e em normas de produção orgânica agrícola.