O título deste artigo, Felicidade orgásmica, é uma redundância fisiológica, pois, felicidade é sinônimo de orgasmo e vice-versa. Acabei de criar um termo dentro da minha área. Fiódor Dostoiévski (1821-1881), romancista russo, certa vez escreveu: “Felicidade. Tão forte e tão doce que por alguns segundos dessa delícia trocaria 10 anos de minha vida”. Acredita que ele estava descrevendo um ataque epilético? O famoso romancista era portador de um tipo raro de epilepsia que, durante as convulsões, ativava zonas de prazer no cérebro. Também sou portadora de epilepsia, mas a minha passa longe dessas sensações. Droga…

O orgasmo, para a biologia, ao que tudo indica, serve para atrair alguns seres vivos, possibilitando a reprodução e garantindo a perpetuação da espécie. E, aparentemente, apenas o ser humano o possui tão intenso e tão frequente: as mulheres não apresentam cio, assim, as outras fêmeas têm que esperar determinadas épocas do ano para se deliciarem com a sensação prazerosa, enquanto nós não.

Uma dupla extraordinária é que realizou os estudos mais profundos, e até hoje são referências na área, sobre a excitação sexual e orgasmos em ambos os sexos: o ginecologista e obstetra William Masters e Virginia Johnson. Casaram-se no início dos estudos que realizavam em 1972 e separaram-se em 1993. Viram como o assunto é problemático?

O prazer máximo do ato sexual afeta todo o organismo. Começa nos olhos e perpassa pelo nariz, pela boca e pela pele, ao entrar em contato com o objeto de desejo. Os sentidos levam a informação captada ao cérebro que reage aumentando os batimentos cardíacos e a frequência respiratória, porque percebe que, em alguns instantes, algumas áreas específicas do corpo, necessitarão de apoio extra de sangue e oxigênio. Sequência de eventos orquestrada pela adrenalina.

Dentro do cérebro, os mesmo neurônios comandam a dança dos neurotransmissores nas regiões de prazer e, para evitar uma pane geral, a região de desprazer também entra em atividade eliminando uma grande carga de endorfinas para equilibrar o jogo. No auge, o curto-circuito neuronal provoca espasmos musculares que levarão ao gozo masculino e feminino.

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Há quem se contorça por inteiro, outros nem tanto, mas o fato é: são gastas inúmeras calorias. Alguns pesquisadores comparam a perda calórica a uma partida de tênis, outros à uma maratona, mas, o fato é que, após o orgasmo, todas essas endorfinas acabam inundando o sangue, levando ao relaxamento extremo.

Comumente, os homens passam por um período refratário, onde é impossível, mesmo com estímulos, alcançar nova ereção. Para a mulher, não existe esse período.

No mundo animal, não é possível dizer se as fêmeas têm orgasmo, observação facilitada no macho, devido às reações que ele tem e pelo aparente prazer estar associado à ejaculação, inclusive nos homens.

Existem teorias que afirmam que o orgasmo foi uma reação adquirida pelas mulheres ao longo da evolução. Alguns pesquisadores dizem que elas não sentiam prazer antes de se tornarem bípedes e que pelo fato de saírem andando logo após o ato, prejudicava a fecundação.

Vejamos: aqui todo mundo sabe que sair andando após o ato sexual nunca foi um método contraceptivo, mesmo porque, as contrações do útero no coito, “sugam” os espermatozoides para dentro dele, portanto, se quer engravidar e alguém der a dica do “fique de nádegas para cima”, ignore, você só ficará ridícula na posição. A não ser que queira animar o parceiro a dar gargalhadas pós-sexo, fato que não deixa de ser uma forma de manter a relação divertida.

Homens, por favor, mantenham-se calmos, lentos e pacientes. A mulher pode levar até 10 minutos para se “aquecer”. Carinhos, palavras indecentes (para algumas), ou de amor (para todas) ajudam a esquentar os motores femininos. Temos certa dificuldade para nos livrar de todas as nossas atribuições e nos concentrar no sexo. Ajudem-nos a mudar o foco.

Ary Toledo, que faz piada de tudo, disse certa vez em uma apresentação: “nós homens somos mesmo ingratos. Levamos nossa mulher às festas, ao cinema, ao teatro, mas nunca levamos a esse tal de orgasmo.” Sim, nós temos dificuldade em encontrá-lo.

É fato consumado: ganhamos muito com a evolução do orgasmo feminino, pois, nos libertamos do cio e esta prática, por si só, é uma grande tentação. Queremos repetir sempre. Mais de uma vez numa única noite e esgotamos nosso parceiro, porque, depois que aquecemos nossos motores, não há quem consiga manter apenas a chama acesa,a mulher pega fogo,literalmente. Enquanto as reações masculinas são mais rápidas. Em vários sentidos.

Esse texto me fez lembrar as aulas de fisiologia da reprodução. Alguns alunos, homens e mulheres, ficavam após as aulas para me fazer perguntas sobre sexo. Não sou sexóloga e no início estranhei, porém, me esforcei para tirar algumas dúvidas.

Vou reproduzir aqui algumas delas.

– O tamanho importa? Não importa. Pesquisadores indicam, ao contrário do senso comum, que o tamanho do clitóris importa, enquanto o do pênis, não.

– Vagina grande atrapalha? Não atrapalha. Para cada vagina existe um pênis que encaixa perfeitamente. O que é grande ou pequeno, também é muito relativo nesse assunto. Faça alguns testes, não se case com o primeiro pênis que encontrar. Ops! Com o primeiro varão que se relacionar.

– Onde está o ponto G? Dizem que em algum ponto dentro da vagina. Não sei ao certo onde. Nem sei se tenho e caso tenha, não faço a menor ideia sobre a sua localização. O ponto G não é uma região anatômica totalmente descrita e estudada, mas, aparentemente, relaciona-se com o orgasmo vaginal.

– O que é orgasmo clitoriano e orgasmo vaginal? É a mesma coisa. Orgasmo é orgasmo, independentemente de onde tenha originado o estímulo. Aparentemente é mais fácil atingir o orgasmo estimulando o clitóris, pois, ali é a região de maior inervação da genitália feminina.

– Porque não consigo atingir o orgasmo com meu namorado e sozinha, sim? Porque você é mulher e, como tal, é complicada. Provavelmente, é porque você conhece melhor seu corpo do que ele. Dê dicas.

– Não consigo me masturbar. O que eu faço?

Veja bem, a essa altura eu já estava me enfiando em um buraco qualquer na parede. Vou repetir: não sou sexóloga. Vamos à resposta: A educação que recebemos (era uma aluna da minha idade mais ou menos) dizia que o menino poderia se masturbar por questão de necessidade e, as meninas, se praticassem tal ato acabariam no inferno. Veja bem, o conhecimento íntimo não é ruim, o que recomendo, é não postar nas redes sociais ou compartilhar vídeos de sua intimidade.

Meu conselho: conheça-se. Explore. E seja feliz com seu novo amigo, o orgasmo!

Contudo, não exagere, é melhor ter um parceiro que te entenda e explore seu corpo com cuidado e atenção. Concordo com a atriz Ana Paulo Arosio, ao falar sobre o orgasmo: “Não vejo o orgasmo como um fim. Senão, o mais prático seria a masturbação. É mais rápido, garantido e não precisa conversar depois.” (foto acima: br.blastingnews.com)


ELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora.