Ausente nestas duas semanas por problemas de saúde e por estar sem cabeça para resolver demais dilemas, volto ao meu Jundiaí Agora, com muita saudade do dever a ser cumprido, ou seja, com saudade de meus leitores e amigos, que apoiam e valorizam minhas coisas. No entanto, mesmo sem haver me comunicado com meus amigos e sem ter tido muito contato com demais meios de comunicações, não fiquei na bolha nem fiquei desacordado: tive oportunidade de ouvir comentários sobre coisas que me são significativas.

E tratarei delas, antes de um texto bem acadêmico, do tipo dos que produzo, no exercício contínuo de minha profissão. E sairei de “melhor do Mundo” para “escravidão ministerial”. Vamos comigo…


Feliz por ver que Cristiano Ronaldo é, mais uma vez, sem ser novamente, o melhor do Mundo no Futebol. Símbolo masculino da vaidade, exemplo de pai jovem, moderno e atual, milionário, adorado pelas mulheres e homens, depilado, habilidoso, falastrão e lusitano. Tive que ouvir que o nosso Neymar falou que um dia será o melhor. Tive que ouvir, sim; bem melhor do que ser surdo, pois.

Cristiano Ronaldo é exemplo em vários países da Europa. Apesar de seus arroubos de humildade, incentiva vários ambientes de crianças carentes e idosos, não faz questão de esconder sua infância pobre, de pais bastante humildes e bem intencionados, nem tenta ludibriar a imprensa sobre seus contratos e ganhos.

Exemplo a ser seguido pelos atletas que tentam ser melhores. Simples assim.


E a ministra, que ainda não mostrou a que veio, com seu ministério, teve a insensatez de dizer que ganha como escrava. Será que essa senhora senil sabe o que é salário mínimo? Será que na senzala de onde ela diz estar, já comentaram sobre atendimento médico do SUS? Será que essa nobre representante do exército ministerial já tomou uma lotação urbana, tipo um ônibus da Esplanada dos Ministérios para o bairro do Gama?

Acredito que falte a ela uma caminhada curta pela Cracolândia, uma visita a uma instituição de deficientes mentais isolados, ou uma visita a uma escola pública de periferia, para entender o que é senzala ou escravidão. Em especial, recebendo o salário mínimo do brasileiro, que sofrerá um pequeno reajuste porque a inflação diminui, segundo um outro iluminado ministro amigo dela, que do alto do planeta Vênus, calcula nosso país como um país que está dominando a inflação, vencendo o analfabetismo, e avançando rumo ao desemprego.

Às vezes me pego surpreso: será que alguns cargos eliminam a capacidade da inteligência das pessoas, ou estes cargos possibilitam a seus ocupantes a pensar que seus “súditos” são idiotas? Senhora ministra, com todo respeito que tenho a raça humana, a senhora é uma piada. A senhora é uma piada de muito mau gosto. Abandone seu cargo e, com sua aposentadoria, vá percorrer as ruas deste Brasil, como cidadã de bem e depois conta para nós o que significa escravidão.

Tome vergonha, senhora. Ofender em rede nacional deveria ser crime. Sobre nós, seus súditos, sou obrigado a lembrar da fábula, em que de repente o menininho olha para aquilo e diz:

“O rei está nu!!!!!”

Como espero por este momento. Reaja, povo brasileiro. O rei está nu faz tempo.


E, então, um texto bem acadêmico. Mas interessante devido sua veracidade.

Desde muito o universo passa a se comunicar por meio de uma ferramenta revolucionária, atemporal e etérea: a internet. O ciclo que se inicia com a internet é algo extraordinário e que favorece à humanidade estar em todos os lugares, saber tudo e se inteirar com todos, numa velocidade incomensurável e, por incrível que pareça, no não-lugar. A internet é um meio de comunicação sem igual e não substituiu o papel: tem muitas outras funções.

Seria óbvio de se esperar que o Mundo Esportivo fizesse o melhor dos usos desta ferramenta que permeia todos os demais espaços constituintes das funções humanas, mas nem sempre isso acontece. Algumas limitações se apresentam que diminuem o impacto e a grandeza da internet, em especial quando estamos diante de grandes personagens do momento esportivo, que buscam o anonimato e forçam o isolamento, para garantir a privacidade.

Tal silêncio é temporário, porque a internet é voraz com seus usuários e deixa rastros que podem ser acompanhados ou seguidos à distancias territoriais, não permitindo um tempo muito grande de clausura. No mundo do esporte, as questões de concentração sempre foram problemáticas, e nesse período atual fica ainda mais fragilizado, pois qualquer celular ou tablete põem o atleta em contato com todos os que ele desejar.

Na época da Era Digital fica quase impossível as pessoas se esconderem ou se isolarem, diante de um mundo comandado por inteligências artificiais e robôs; grupamentos com interesses comuns interagem em salas de bate-papo, ou trocam mensagens pela rede, por intermédio de fóruns de discussão ou mensagens dirigidas a um determinado alvo: vale tudo, menos não se comunicar. É sabido do poder da internet, em especial quando se pensa em contatar e mudar o estilo de vida.

Temos, já, estudos dando informações a respeito do vício pela internet. Ela já é viciante; aliena e liberta (ao mesmo tempo) e a duração de uso, nas 24 horas diárias, e a forma como é utilizada vai traçar o perfil deste usuário, tipificando assim o cibervício. Inclusive no mundo do esporte está ocorrência se diz presente, levando a técnicos mais conscientes tomarem atitudes de esclarecimentos e orientações diante do uso das redes de comunicação.

Acredito ser interessante lembrar que uma amizade quase rompida pela distância volta a ser íntima graças aos e-mails e aos demais elementos de comunicação digital. Barreiras sociais caem e contatos pululam a medida que nos inserimos no ciberespaço e endereçamos nossos questionamentos; estas tecnologias vieram para se instalar na sociedade contemporânea e desalojar antigos princípios de contatos humanos, queiramos ou não aceitá-la ou desacreditá-la. Ela é um fenômeno contemporâneo e permanente. Sofrerá alterações que a habilitará num processo mais veloz e mais fugaz, menos intimidativo, até.

A busca da grandeza e da velocidade fará com que este novo meio de comunicação envolva até os mais resistentes e, em breve, os escritórios e bibliotecas serão reformatados para atender ao estilo do próprio da cibercultura: a população já faz a migração com certa familiaridade e aceitação, favorecendo o crescimento de veículos de comunicação vertiginosamente: muitas revistas têm seus números editados no ambiente digital diminuem suas publicações físicas, não apenas por conta do desmatamento e da preservação do planeta mas também pela velocidade e intensidade de consultas no ciberambiente.

É evidente que ainda estamos em momentos de ajuste aos novos canais de informação, no entanto o fato de estar conectado ou desconectado aglutina as pessoas em grupos de diferentes posições: uns são afoitos e já estão alfabetizados no ambiente, outros ainda são assustados e como tal curiosos ou medrosos diante do novo. O que percebemos é que a aproximação das pessoas por informação está muito acelerado e seletivo, dividindo o público entre os usuários comum e os impertinentes.

Talvez a proposta de divisão do público usuário explique bem a diferença do uso do ambiente ciber: enquanto em anos atrás corria-se procurando a informação, agora o objetivo é garimpar o bom e o medíocre. A grande diferença está na cultura e no ambiente que se busca a informação, visto que nesse espaço fugaz encontramos uma quantia enorme de dados, alguns de muita seriedade e outros nem tanto; coletar um ou outro dado vai levar a ser mais ou menos ouvido, atingindo mais ou menos pessoas.

O volume enorme de dados disponíveis e a maneira como é apresentada faz com que parte das notícias seja inútil, pela fragilidade da fonte ou pela característica da informação; entretanto, a internet nivela todos no que diz respeito ao contato com a notícia. A diferença só se manifesta quando repensamos no modo de apresentar as informações, por causa da utilidade que é dada a ela: algumas são de pronto consumo e outras são frágeis em sua composição. A internet é um ambiente propício para a criação de fatos de pouca credibilidade.

Aquilo que passa pelo crivo da seriedade ganha vulto e notoriedade; sedimenta-se e transforma-se em assunto de grande repercussão. A fonte e a forma de divulgação são importantes para garantir que a notícia seja veiculada e atinja um público grande. A partir daí teremos as replicações, os debates e as retroalimentações, presentes em todos os momentos, no ciberespaço. Esta situação é real em todos os ambientes da sociedade atual, inclusive nos esportes, que compõem a sociedade do espetáculo.

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No espaço esportivo a questão nem sempre beira a credibilidade, visto o fato de haver muito mais especulação do que constatações, nas vidas dos atletas e em suas ações comunitárias. Muitas informações são lançadas sem prévio conhecimento e isso acaba beirando à especulações infundadas e sendo veiculadas em espaços de seriedade discutível. Apenas as temáticas e trabalhos de divulgação científica merecem destaque privilegiado no ciberespaço do esporte.

Sendo assim, como se trata de assunto de menor interesse? Como podemos saber o que os atletas e técnicos buscam na internet? Como membros de uma sociedade afoita aos novos conhecimentos e aos novos modos de vida, todos buscam o novo e assim acabam por se perder nos enredamentos propostos pelo ciberespaço; a visita e a permanência em salas de bate-papos, em sites pouco recomendados cria a sensação de liberdade irreal e de possibilidades infundadas.

O fato de acreditar no anonimato proposto pela rede é algo muito questionável e de certa forma infantil: não há anonimato neste universo. O I.P. é o cartão de identidade de todos e nada se transforma depois de entrar no ciberespaço: podemos apagar a notícia ou a mensagem, mas ela já foi emitida e pode ter sido copiada. Assim, já é de domínio público. Para o bem e para o mal.

E por que é interessante estarmos atentos à utilização da internet, no mundo dos esportes? Porque, inadvertidamente, nossos atletas podem estar fazendo uso da rede, sem uma boa orientação e sem preocupações que podem ser falaciosas, entrando em problemas desnecessários, do tipo: emitir conceitos preconceituosos e inadequados, propagandear algo pouco recomendado, desgastar-se em noites em claro sem tréguas e sem descanso, expor-se além do necessário, violar algumas regras do grupo a que se agrega enquanto atleta e demais deslizes que podem ser contornados, com uma orientação pontual.

Na maioria das vezes isso não ocorre porque os técnicos esportivos ou membros de seu grupo estão igualmente imersos no ciberespaço ou desconhecem a possibilidade de uso sem excesso. São emblemáticos e variados os casos de atletas que deslizaram no uso inadequado da internet, postando fotos ou diálogos em situações constrangedoras, com efeitos devastadores. Evidente que uma orientação seria uma boa intervenção, mas na falta desta estaremos rumando para uma assessoria mais pontual.

A dessensibilização é indicada e precisa ser aplicada como acontece nas questões de drogas, visto o fato do cérebro estar acostumado e atuar bem com o efeito da satisfação oportunizada pelo uso das redes. Em muitas das vezes o atleta não percebe que se condicionou a olhar na tela do celular, para acompanhar a movimentação de seu Whatsapp ou de outra rede social, diminuindo o foco de atenção em propostas mais úteis e adequadas.

Quando pensamos nesta etapa do fenômeno precisamos ter claro que e muitos momentos vemos, de dirigentes ao massagistas e de roupeiros à atletas, um coletivo absorto no uso de seus aparelhos, comunicando, as vezes até, com os membros do próprio grupo, sentado ao seu lado. Esta observação é sinal que estamos diante de um grupo em estado de torpor midiático e que, ali, neste esquema, todos sofrem de cibermania, merecendo atenções de profissionais qualificados e preocupados com a questão.

Como sempre lemos em estudos desta área, o problema não está focado na internet, mas no uso que se faz dela. (foto acima: redacaonotadez.com.br)

AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.