Vimos no artigo anterior que, hoje em dia, usando métodos caseiros, dificilmente conseguiremos escolher conceber meninos ou meninas, assim como, veremos agora, que, de forma geral, meninos e meninas desenvolvem-se de maneira similar no útero materno. Apenas 1% dos 400 milhões de espermatozoides depositados na vagina atingirá o colo do útero e, ainda, deverá percorrer o equivalente à distância entre Nova York e Lisboa para chegar às tubas uterinas, buscando o seu objetivo: o óvulo. Apenas um espermatozoide será o vencedor.

Uma pergunta então surge: como ele sabe para onde deve ir?

Alguns especialistas consideram o espermatozoide a célula mais interessante e esperta que o corpo humano produz, pois, apesar de não ter olfato ele, literalmente, é atraído pelo “cheiro” do óvulo, um processo chamado na fisiologia de quimiotaxia, ou seja, a célula feminina produz substâncias químicas que a direciona no caminho correto (assim como não só a aparência atrai o olhar de um homem para uma mulher. Considerarei este assunto em outro momento).

Dois trabalhos publicados na revista Nature em 2011 indicam que os espermatozoides são atraídos e guiados pela progesterona, um hormônio produzido pelas células ao redor do óvulo. Descoberta interessante que pode ajudar a desenvolver o anticoncepcional masculino. Aparentemente, a progesterona ativa um canal no espermatozoide chamado Catsper, o que o conduz na direção certa, como um míssil teleguiado ou, neste caso, “quimioguiado”.

Num processo de lenta eliminação, a corrida dos espermatozoide leva apenas cerca de 50 mil às tubas uterinas e, assim como um exército organizado, alguns vão à frente, alguns morrem pelo caminho, outros se alojam na parede uterina como um pelotão de suporte, enquanto os da frente se organizam em posição de “V” invertido, como os gansos voando. Desta forma, os menos aptos ajudam os mais capacitados a atingir o objetivo.

Curiosidade: como você imagina o espermatozoide? Algo parecido com um girino de cabeça oval e cauda comprida? Que nada! Estes são apenas um terço do total, a maioria é bem desengonçada, com duas cabeças ou caudas curtas, por exemplo.

Ao chegar lá, apenas centenas deles conseguem alcançar o óvulo, nem sempre o primeiro será o eleito. O óvulo é cerca de 85 mil vezes maior que o espermatozoide e para que ele perceba a proximidade de tamanha insignificância, vários deles devem se aproximar e tocar a parede externa do óvulo. Isso faz com que a parede ceda o suficiente para que apenas um, dentre eles, penetre de verdade.

No momento que o escolhido passar, mais nenhum entrará. Assim que ele atinge o citoplasma da célula feminina, perde a cauda e inicia o processo de pareamento de seu material genético com aquele que pertence ao óvulo.

Curiosidade: o espermatozoide foi descoberto no século 17, mas, somente no século 19 descobriu-se como ocorre a fecundação. Naquela época, alguns cientistas acreditavam que pessoinhas ficavam armazenadas nas cabeças dos espermatozoides e usavam o útero como um forno para crescer.

Esquisito não?

Após o pareamento dos materiais genéticos paternos e maternos, somente depois de 30 horas ele passa a se dividir, geometricamente, duplicando seu tamanho a cada um ou dois dias, ao mesmo tempo em que migra para o útero. Após 3 a 4 dias de viagem, uma pequena amora chega ao destino, mas, somente no 6° dia após a fecundação se fixará em sua parede.

Nesta fase existem algumas alterações hormonais devido à fertilização e, por este motivo, os enjoos, vômitos e a consequente falta de apetite são recorrentes. Aqueles desejos estrambólicos também ocorrem nessa fase. Dica para o pai da criança: não discuta, apenas aceite as coisas loucas que sua mulher pede, esta fase passa e ela voltará ao normal. Talvez……

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Curiosidade: se até antes de se fixar à parede, a pequena amora não tiver se dividido, nascerá apenas um bebê. É até este momento que é possível obter gêmeos univitelinos, ou seja, dois bebês idênticos.

Alguns hormônios passam a ser produzidos (ou aumentam sua concentração) logo após a concepção como: a progesterona, a gonadotropina coriônica humana (HCG), o estrogênio, o lactogênio placentário humano (HPL) e a somatomamotropina coriônica humana.

O papel principal da progesterona é relaxar a musculatura do útero, promover o crescimento das mamas, aumentar o tamanho da vagina desenvolvendo os grandes e pequenos lábios, aumentar a pelve para facilitar a passagem do bebê na hora do parto, além de participar na mamogênese.

Algumas mulheres tornam-se ninfomaníacas nesse período devido as ações da progesterona. Marido: aproveite! Depois que o bebê nascer você terá que marcar hora para namorar. Relação sexual durante gravidez sem riscos é TOTALMENTE liberada.

O HCG tem papel fundamental no início da gestação, pois,nessa fase a placenta não consegue produzir progesterona e estrogênio suficientes para o desenvolvimento do feto.

Para preparar o útero para o parto temos o estrogênio que melhora a sua elasticidade, bem como, do canal cervical, participa do metabolismo do ácido fólico (importante para o sistema neural do bebê) e do desenvolvimento das mamas. Ele também recebe o auxílio do HPL que é quem vai iniciar o processo da lactogênese, induzindo a formação do colostro, o primeiro leite materno, rico em imunoglobulinas.

Para auxiliar na nutrição e crescimento adequado do bebê entra em ação a Somatomamotropina coriônica humana, um análogo do hormônio do crescimento.

A partir do sexto dia pós fecundação, quando essa massa de células se fixa ao útero, é que a ligação mãe/bebê se estabelece, momento maravilhoso, embora, a mulher ainda não tenha a mínima ideia de que foi escolhida para tamanha responsabilidade, afinal, passaram-se apenas 7 dias.

Até o final da segunda semana de gestação o sistema circulatório da mãe passa a envolver o embrião, conectando-se com veias que este forma para desenvolver a placenta. Neste momento, a concentração de HCG, o hormônio que acusa gravidez, poderá ser detectado nos testes de farmácia.

O desenvolvimento do sistema nervoso inicia na terceira semana, bem como, o coração que já poderá ser ouvido a partir da quarta semana.

Como a cabeça se desenvolve muito mais rápido, nosso cabeçudinho terá uma forma ainda um pouco estranha, já que apresenta cauda, pequenos braços e pernas, olhos e orelhas.

Somente entre a quinta e a oitava semana, o embrião começará a adquirir sua forma final, com braços, cotovelos, joelhos e o nariz já pode ser distinguido, pois, já estará com, aproximadamente, 2,5 centímetros.

No final deste período as gônadas se diferenciam em ovários ou testículos, quem vai comandar estas etapas é o sexo cromossômico: no embrião masculino o cromossomo XY e no feminino o cromossomo XX. Esse processo inicia-se na 7ª semana e se completa por volta da 12ª. Aqui ocorre uma pequena produção de hormônios e muitos autores afirmam que este fato já promove as diferenças observadas nos comportamentos e pensamentos discrepantes entre homens e mulheres.

Curiosidade: se, por qualquer motivo, não houver o comando do cromossomo Y para desenvolver as gônadas masculinas, naturalmente, se desenvolverá a feminina, conhecida por “síndrome da insensibilidade aos andrógenos”.

No segundo trimestre começa a interação do bebê com o ambiente uterino, ele passa a sugar, engolir, se movimentar, percebe alteração de luz, sons e sabores, crescem os cabelos, cílios e sobrancelhas, suas digitais começam a aparecer e, no exame de ultrassom, já é possível distinguir meninos de meninas.

É também no segundo trimestre que a mãe sente borboletas na barriga. É o bebê! Ele se mexe desde sempre, mas, só agora que o útero se expande preenchendo espaço no abdômen,ficando mais próximo ao umbigo, que é possível senti-lo fazendo bagunça no líquido amniótico.

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Nesse momento o vínculo mãe/bebê se fortalece, pois agora, é possível senti-lo, isso o torna mais real.

O bocejo, as reações a conversas e sons acontecem no terceiro trimestre, momento em que ele também dorme e cresce, pois, seus órgãos e todas as estruturas componentes de seu corpinho já estão formados.

Um mês antes de nascer ele vira, se colocando na posição ideal para o parto e aumenta a sua fofura depositando mais gordura sob a pele para resistir melhor ao frio do lado de fora. Ossos e pulmões, também, estão quase prontos.

Em torno da 40ª semana, com um tamanho entre 45 e 50 cm, peso em torno de 3 quilos, todos os órgãos estão, completamente, formados. O bebê já consegue controlar a respiração, portanto,está pronto para nascer.

Não se conhece, exatamente, os eventos desencadeantes do parto, o que se especula é que o hipotálamo maduro do bebê induz a produção de cortisol que, por sua vez, estimula a produção de prostaglandinas pela placenta, induzindo a produção da ocitocina materna, o que promove a contração do útero.

O parto natural, como o nome diz, ocorre naturalmente, a não ser que haja algum problema que impeça a saída do bebê, como por exemplo, não haver alargamento suficiente na pélvis para o bebê passar, função desempenhada pela relaxina.

Neste momento, cérebro materno e útero são os órgãos mais ativos trabalhando num sistema hormonal conhecido por feedback positivo, estimulando-se mutuamente, até que o bebê venha ao mundo.

Além de promover as contrações uterinas, a ocitocina, também conhecida como “hormônio do amor”, tem papel fundamental no estabelecimento do vínculo afetivo mãe/bebê. No momento final, ela recebe uma ajuda da adrenalina e da melatonina para que o bebê finalmente venha à luz.

Como todos estes hormônios despencam, abruptamente,depois do parto (aproximadamente 4 dias após) da mesma forma que neurotransmissores como serotonina e dopamina (que trazem bem estar), a nova mamãe pode se sentir triste inicialmente e mais tarde desenvolver depressão. É preciso atenção e cuidado nesse momento.

Mas nada supera a emoção de segurar seu bebê pela primeira vez.

Nunca imaginei poder me apaixonar tão perdidamente por um banguelo, gorducho, careca e enrugado. Apenas aparência, porque quando ele for capaz de olhar e, realmente, ver a mãe, ela sentirá que é a pessoa mais amada, linda e perfeita do mundo, por que é, exatamente, com essa adoração que eles nos olham. (ilustração acima: espanol.babycenter.com)

 

ESPERMATOZOIDEELAINE FRANCESCONI

Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora