Os seres que compõe a vasta comunidade biológica sempre me causaram encantamento e curiosidade. Quando criança fazia experimentações para entender como funcionavam, mas o que eu queria mesmo era ser tão hábil e inteligente como meu primo Eduardo se mostrou anos mais tarde com seus aparatos tecnológicos, talvez assim conseguisse montar e desmontar alguns insetos que caçava no jardim. Mais tarde descobri que isso não era possível. Não com insetos.
Enquanto crescia e estudava mais profundamente, vários questionamentos se apresentaram, ora por mim, ora por meus colegas e, um pouco mais tarde, pelos alunos tão sedentos e curiosos como eu, mas nem sempre ocorria de ser algo tão importante, capaz de mudar o mundo da ciência. Muitas vezes era apenas curiosidade sobre algo tolo, como o formato das pupilas dos animais ou a velocidade de um espirro, mas que em vários momentos atraíram a atenção até daquelas pessoas que detestavam o assunto, pelo simples fato de ser engraçado ou fora do comum nas discussões.
Quem teve aula comigo sabe: gosto de aprender me divertindo e assim faço nas aulas que ministro. Há espaço para se divertir e aprender. Por que não ao mesmo tempo?
Então, desta vez, neste espaço, reuni algumas situações fisiológicas interessantes que por vezes surgiram em discussões em sala de aula, para apresentar aos leitores. São as curiosidades curiosas do título. Deixo de fora aquelas relacionadas aos animais. Quem sabe em outra oportunidade comento sobre esta matéria.
Certa vez, comentando sobre o quão ruim sou em jogos de cartas, especialmente pôquer, veio a pergunta sobre um movimento que fazemos sem nos dar conta, mas extremamente importante para a saúde dos olhos.Para comprovar basta perguntar a quem não consegue piscar. Então….Exatamente porque piscamos?
Piscamos quando queremos e quando NÃO queremos. Piscamos, basicamente, para umidificar e limpar os olhos numa frequência de 24 vezes/minuto, com duração de décimos de segundos.
Mas também podemos decidir piscar como, por exemplo: para paquerar, para tirar cisco do olho, no jogo de pôquer dentre outras situações, portanto, podemos modificar a frequência com que piscamos. Alguns estudos apontam que pessoas estressadas chegam a piscar até 40 vezes/minuto sem sequer perceber.
A piscada também é útil para detectar um mentiroso, pois, quem mente está sob pressão/estresse, piscando mais do que uma pessoa que conta a verdade.
Uma curiosidade que me deixou abismada ao estudar promotores de alergia: 80% da poeira insistente sobre os móveis das casas é oriunda da pele dos moradores! Essas magníficas células se renovam de 20 a 30 dias, cobrindo em média, 2 m2 ao redor de nosso corpo e equivale a 18% do peso corporal. A pele é o maior órgão do corpo humano! Para um indivíduo que vive 70 anos chega a perder, em média, 48 kg de pele ao longo de sua vida. E alguém a limpou, incansavelmente, ao longo desse tempo.
Minha família é de descendência italiana, portanto, as reuniões ocorrem na cozinha, o maior e mais agitado ambiente da casa. Observando meus primos às refeições, na adolescência, me deparei com uma pergunta: quanto será que um ser humano é capaz de comer? No caso deles, parecia ser uma capacidade infinita.
No meu caso, tenho momentos de insanidade glutona, pois, em certos dias do mês, tenho uma fome alucinante e n´outros dias, tenho a impressão de conseguir viver apenas bebendo água e chupando gelo. Embora nunca tenha aferido a capacidade familiar de se empanturrar, também não aconselho que ninguém o faça, afinal, embora elástico, (o estômago tem a capacidade de expandir de míseros 50 ml para 3 ou 4 L, ou seja, 80 vezes sua capacidade mínima) se insistir além disso, a reação natural é o vômito.
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Certa vez peguei minha tia rindo muito. Ela observava, atentamente, seu filho do meio, Rodrigo, brincando com três gotas de água escorrendo pelo peito. Cada gota tinha nome e disputavam uma corrida. É óbvio que essa história rodou a família toda, bem como as salas de aula por onde passei. Mais tarde lembrando esta ocorrência pensei: Como seria uma corrida entre alguns parâmetros que podem ser mensurados em nosso corpo?
Desafio proposto aos curiosos alunos: entre o espirro, o espermatozoide, o sangue, a tosse e o impulso nervoso, quem seria o vencedor?
O resultado seria este:
1º lugar: Impulso Nervoso = 420 km/h
2º lugar: Espirro: 165 km/h
3º lugar: Tosse = 160 km/h
4º lugar: Sangue (ao sair do coração para a aorta) = 108 km/h
5º lugar: Espermatozoide = 45 km/h
Só para comparar: o corredor de fórmula 1 mais veloz no ano de 2016 foi o Valtteri Bottas = 378 km/h e o corredor dos 100 metros rasos mais veloz do mundo atualmente, Usain Bolt = 37,7 km/h.
Fiquei chocada ao saber que o espermatozoide é mais ligeiro que o homem mais rápido do mundo.
Pegando o gancho da corrida, admito que cresci em uma família que adora colocar o pé na estrada, não literalmente, gostamos mesmo é de gastar combustível por aí conhecendo pessoas e lugares novos. Assim como minha mãe fez comigo, levei meus filhos em suas primeiras viagens aos 3 meses de idade. São tantas estradas boas e ruins por esse Brasil afora, e todas elas levam a lugares incríveis.
Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), o Brasil possui apenas 10% de estradas pavimentadas, num total de, aproximadamente 172.897 quilômetros. Comparando nossas estradas pavimentadas à extensão de nossos vasos sanguíneos, incluindo-se veias, artérias e pequenos vasos, podemos afirmar que um corpo adulto tem mais quilometragem em vasos sanguíneos do que o Brasil tem de estradas, afinal são 200.000 quilômetros que nosso sangue percorre várias vezes ao dia.
Mesmo viajando sozinhos, de verdade, nunca estamos sós. Afinal, além de Deus, temos mais bactérias convivendo diariamente conosco do que células em nosso corpo, são cerca de 10 trilhões de células contra (ou favor, depende de sua localização e ponto de vista) 100 trilhões de bactérias .Existem mais bactérias na boca de um ser humano do que pessoas no planeta Terra. Haja companhia!
Aquelas que vivem no intestino (em torno de 2,5 kg de bactérias) responsáveis por odores desagradáveis ao eliminarmos a barulhenta (ou não) flatulência, ajudando na produção dos cerca de 1,5 litros de gases, embora parte desses gases tenham sido engolidos ao falar ou comer e que podem também ser eliminados via arroto.
Aviso: não devemos impedir sua eliminação, pois o acúmulo de gases pode causar dores no peito similares àquelas provocadas por um infarto, além do que, há mais espaço fora do que dentro do corpo, os idosos já aprenderam isso e o fazem com muito mais naturalidade.
Outra realidade sobre os idosos: além da densidade dos fios de cabelo diminuir, eles também têm o diâmetro reduzido com a idade, tendendo a desaparecer de alguns lugares e aparecer em outros, em total desacordo com a estética. E onde nunca encontraremos pelos? Na sola do pé, palma da mão e lábios. Além disso, algumas cartilagens não deixam de crescer nunca para desgosto dos narigudos e orelhudos de nascença, pois essas áreas crescem até 1 cm com o passar dos anos.
Uma coisa sempre me intrigou, mas principalmente, depois que tive filhos e me deparei com uma tarefa potencialmente perigosa para mim e para eles: cortar as unhas. Como crescem! Principalmente das mãos! E é fato que as unhas das mãos crescem 4 vezes mais rápido do que as dos pés, nos colocando, muitas vezes, numa situação nem sempre agradável, afinal, algumas crianças, assim como meu filho mais novo, chora ao cortar a unha “porque dói”.
Algumas pessoas, ao contrário de mim, têm determinados sentidos aguçados como é o caso dos degustadores. Neste caso, olfato e gustação estão sendo utilizados na máxima potência de seus 5 milhões de receptores olfativos e em torno de 9000 unidades gustativas espalhadas na boca. Acredito ter apenas um terço desses valores, principalmente, aqueles relacionados à olfação, afinal minha sinusite atrapalha em demasia a identificação dos odores, o que, por sua vez, também afeta a gustação.
Eu babo à noite. Quem não baba? A produção de saliva é maior quando nos alimentamos ou no nascer dos dentes do bebê, mas ela não cessa quando dormimos, ficamos em jejum ou não conversamos. Ao longo da vida um adulto de, aproximadamente, 70 anos já produziu em torno de 23 mil litros de saliva, mais ou menos o equivalente a seis xícaras de saliva por dia e o suficiente para encher duas piscinas pequenas. Então babar não deve ser um evento tão raro assim, só não gostamos de admitir.
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Certa vez, tive que fazer RPG para combater dores lombares e descobri, assim como muitas outras pessoas, que crescia 2 centímetros após as sessões. Adorei, afinal era uma forma de diminuir meu IMC, mas o que poucas pessoas sabem é que enquanto dormimos nossa altura aumenta cerca de 8 mm porque os discos intravertebrais se hidratam durante o sono, mas ao longo do dia encolhemos novamente devido à força da gravidade que pressiona a água para fora dali.
O corpo humano possui cerca de 650 músculos esqueléticos, também conhecidos como voluntários, que se ligam aos ossos por tendões, dos quais usamos apenas 14 para sorrir, então penso que devemos sorrir mais, afinal usamos poucos músculos para isso e segundo estudo da Universidade Vanderbilt (EUA), rir durante 15 minutos todos os dias queima até 40 calorias, um pouco mais que um orgasmo (27 calorias). Diante dessas assertivas, vamos sorrir sempre, se não pelas calorias, pelo menos pelo bem estar que o riso proporciona (assim como o orgasmo).
Devo ter gasto em torno de 1000 calorias essa semana apenas rindo durante a pesquisa para essa matéria quando descobri que compartilhamos 50% do nosso DNA com as bananas. Tão a minha cara!!!
ELAINE FRANCESCONI
Bacharel em Zootecnia (UNESP Botucatu). Licenciatura em Biologia (Claretiano Campinas). Mestrado (USP Piracicaba) e doutorado (UNICAMP Campinas) em Fisiologia Humana. Professora Universitária e escritora
