Parodiando pelo avesso um dito a que meu mano Cláudio costuma recorrer só para provocar sua esposa (Madalena), eu gostaria de começar a comemoração de seus 90 anos, dizendo que o Cláudio é um irmão muito melhor do que mereço…

Eu gostaria de dizer também que, precisamente no dia 24 de fevereiro de 1988, quando o Cláudio comemorava seus primeiros 60 anos, eu lhe enviei (de Pequim-China, onde eu vivia) uma mensagem, tratando de desfazer o pessimismo que ele revelara em carta que que recebi pouco antes. Com algumas alterações, feitas agora, eu lhe dizia então:
Distantes, 
porém, não afastados,
apesar de antípodas.
 
Necas de despedidas,
(e)terno mano travesso
a brincar de campa e cruzes
só porque cruzou os 60,
idade de recomeço,
pois a vida, qual a bonina
é reflorir a cada matina
numa (e)tern(a)nidade
de Fênix dezoitina,
a reviver de suas cinzas
pelos cafundós desta China,
onde aprontamos xabus
amarelinhos até demais,
outros,  porém,
bem bacanas,  fenomenais
e sempre com aquele afã
revolucionário
 de antecipar o amanhã.
 
E se já lhe embaçam
as cataratas
dê-lhe banhos e cachaça,
mais um giro pela praça,
leve consigo a loiraça,
recupere toda a graça
e viva em nós o Chalaça.
 
Mas, será que vale a pena?
─ perguntará Madalena, 
só pra entornar meu poema,
despaginar minha cantilena,
deixar-me de quarentena,
 botar-me fora de cena.

LEIA MAIS ARTIGOS DE JAYME MARTINS:

VAMOS NAVEGAR NO RIO JUNDIAÍ?

VIVA O CENTRO DE INOVAÇÃO TECNOLÓGICA DE JUNDIAÍ

OS JOVENS TURCOS

A RENÚNCIA DE JQ

FIDEL CASTRO: PRODUTO E VÍTIMA DA GUERRA FRIA

Mas, dando a volta por cima,
inda que o joelho claudique,
bebemoraremos os seus 70
por este mundo de aquém,
mas vamos forçar os 90,
mesmo pançudos, Matusaléns.
 
Então, eu e mais vassuncê,
viramos tudo no avesso,
atocaiamos na esquina e,
 num golpe de karatê,
violento, ma non tropo,
fazemos um arremesso
e vamos brincar lá no além
c’os filhos do Sinântropus
nas grutas de Zhouguotien,
onde só vale quem tem
conversa de faz de conta,
trololó e nhenhenhém,
o sopro que faz da vela
 fogo divino e do bem
e explica muito melhor
a alma que a gente tem.
 
E já que é dia de seus anos,
vivamos o nosso cacique,
erguendo um bom pique-pique
com muito e muito repique,
e vamos fechar com um clic,
pedindo ao Cláudio que fique,
ou melhor que claudifique!
 
Assina seu mano Jayme,
posando de bolchevique,
brindando c’um alambique!

Pequim, 24/02/1988. Jundiaí, 24/02/2017

(foto acima: www.elo7.com.br)

CLAUDIFICANDOJAYME MARTINS

Jornalista, ex-chefe de reportagem do jornal Última Hora de SP, ex-correspondente na China de O Globo, Estadão, JT, Rádio Eldorado, Rádio Guayaba e SBT, Grande Prêmio de Jornalismo Líbero Badaró, da ABI e Revista Imprensa, pela cobertura dos acontecimentos da Praça da Paz Celestial em 1979, Diretor de Overchina Consultoria e Edições, jayme.overchina@gmail.com