Às vezes verifico que meus textos atingem públicos diferentes e complexos em suas formações, mas não sendo escritor profissional, não sustento este objetivo como algo a ser atingido ou perseguido. Escrevo por gostar de escrever e por acreditar nas entradas que o Jundiaí Agora seja uma mídia confiável e ruidosa. Se fosse de outra forma, garanto que estaria a rir dos casos e descasos e pouco me preocupando com este ou aquele tema, para me fortalecer na escrita.

É desta maneira que chego a mais esta semana: com vastas visões de situações a que fui submetido e tive participação, sentindo que o Mundo está mesmo no fim. Não naquele final apocalíptico e espiritual, onde anjos ajudarão quem sim e quem não; mas num final ainda mais caótico, em que as pessoas estarão totalmente insensíveis a dor do outro.


Ontem uma pessoa de meu estreito relacionamento chegou a um hospital da cidade para receber duas bolsas de sangue, conforme orientação de um especialista, que atende no mesmo hospital. Isso se deu as 16 horas. Após nova triagem, com a paciente passando muito mal; foi informado aos familiares que aquele hospital apenas faria uso da terapia recomendada após confirmação e autorização de outro órgão público, sobre o procedimento.

E, por volta das 22 horas iniciou-se a transfusão. Depois de muito ‘fala fala’, de muito ‘mimimi’, de muitos telefonemas às mais variadas pessoas que tivessem influência na situação. O que mais chama a atenção: a recomendação imediata e urgente fora dada por um médico da instituição, seguido do fato que a família apenas foi informada do processo burocrático após quatro longas horas de espera.

Por favor, atenção para o detalhe: falamos da cidade de Jundiaí, onde temos uma das melhores faculdades de Medicina do país, cujos alunos atuam neste espaço de atendimento. Cidade considerada uma das mais avançadas e progressistas do maior e mais produtivo Estado da nação. Não estamos falando de uma cidadezinha perdida no interior de Roraima, nem solta no espaço do agreste nordestino. Assustador e caótico.

Procurei interceder, à distância, pois não me competia passar à frente dos familiares, mas diante do descaso tentei contato com pessoas que pudessem auxiliar ou ao menos tentar uma solução. Vários outros contatos se fizeram após o grito de socorro, no entanto todos direcionavam a proposta de acatar a normativa existente na instituição.

Pela ordem: se há esta normativa, porque não se direciona imediatamente o paciente que chega para uma transfusão de sangue para onde de fato se resolva? Ou será que pessoas costumam passear em hospitais e, de repente, acham que devem receber uma bolsa de sangue porque é legal? Como dizem os pensadores: o bom senso é burro!!! Tem-se que acatar as normativas existentes e os pacientes (vejam no dicionário o significado de paciente, por favor) devem ser pacientes e aguardar até que algum diretorzinho ou tecnicozinho seja estimulado a correr com contatos para destrinchar as barreiras burocráticas e iniciar os procedimentos médicos.

Lógico, porque receber sangue é um procedimento semelhante a tomar uma Coca-Cola ou comer um hambúrguer e quem precisa deste procedimento não está sinalizando fragilidade em seu estado de saúde. E é mais lógico ainda que os funcionários não se mobilizem porque aquela pessoa não é de sua família e porque tem medo de represálias administrativas.

Isto é um caso ou um descaso? Qual a perspectiva que esta família tem, sabendo que outras bolsas de sangue serão necessárias? Quem se mobilizará?


Perguntaram-me porque eu me envolvi na questão da Aliança Francesa. E eu optei por não responder, porque não queria gastar minha saliva com conversa sem sentido. Penso que conversar com a Vitória é muito mais agradável e proveitoso do que com alguns de meus conhecidos. Desculpe-me, esqueci de apresentar: Vitória é minha vira-lata de 13 anos, que participa de nossa vida desde que a recolhemos da rua.

Bem, mas minha opção em lutar pela AF (Aliança Francesa) se deu porque fui aluno de AF e sei de seu valor, de seu significado e de seu objetivo, num país como o nosso, que busca o desenvolvimento por meio da escolarização e aculturação, em especial quando se trata de ensinar a alguém uma ferramenta (a língua e a cultura) de um país que pode vir a ser a porta de entrada de milhares de brasileiros que migram procurando uma vida melhor.

Fora este propósito que já entendo como suficiente, o fato de conhecer a gestora e idealizadora desta AF, neste momento, é suficiente para empreender tal ação. Poucas pessoas sabem da dedicação necessária para se manter o nível e o acolhimento numa casa de cultura que recebe como alunos pessoas de 10 a 100 anos de idade. Eu sei como é e sei como funcionava a nossa AF. Por isso, lutei, falei, expressei. E você? Fez o que pela nossa AF?

Isto é um caso ou um descaso? Qual a perspectiva que a cidade tem, sabendo que outras boas escolas fecharão? Quem se mobilizará?


Estive participando do Congresso Internacional de Sexualidade e Gênero, neste final de semana, próximo passado. Temáticas de mais alta indagação e complexidade: a educação sexual na escola, do ponto de vista da saber e não do religioso; a pornografia ensinada em casa e a pornografia ensinada na rua; a sexualidade e o gênero: aquilo que se tem e aquilo que se pode viver.

Meu tema era a questão moderna de estudar a provocação por meio da exposição em mídias interativas: o sexting no esporte e os reflexos deste na sociedade midiatizada. Trata-se de uma pesquisa grande realizada no Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP, Rio Claro.

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Achei interessante o fato de, logo após minha apresentação, ter sido pelos professores portugueses que estavam conosco no congresso. Debatemos, argumentamos e alinhavamos propostas de pesquisas em conjunto, já que eles estão muito preocupados com as interferências que o sexting está causando na juventude europeia.

Traçamos planos de trabalhos, sentaremos para escrever projetos e pesquisar em parceria, por entendermos que as redes sociais são demasiadamente permissivas, possibilitando com que outras pessoas invadam nossas vidas por meio da visibilidade (ex: modos de postagens); no entanto, poucos percebem o risco que correm ao tomar atitudes que, muitas vezes, aparentam um falso aspecto inofensivo. O uso da tecnologia não é neutro.

Isto remete a ter que ser ensinado a como se expor, como se comportar e como se apresentar nas redes sociais, mas parece-nos que ainda não se percebeu este aspecto e tudo fica muito complicado, em especial quando uma foto é postada ou uma conversa é revelada. Daí a luta judicial tem início, mas as marcas depreciativas não serão apagadas da vida da pessoa violentada.

Isto é um caso ou um descaso? Qual a perspectiva que se tem sobre o ensino do uso das redes sociais? Quando os pais estarão atentos ao material que seus filhos estão divulgando? Quem se mobilizará diante de tal material explosivo que as redes sociais podem expor?


Fico calado quando alunos ou amigos dizem que estou bem empregado. Alunos, em especial, até sonham em estar em meu lugar. Alguns poucos sabem que comecei dando aulas em escolas periféricas: Vila Maringá, Jardim Tarumã, Vila Nambi, CAIC, Caxambu. Acredito que alguns pensem que nasci dentro da UNESP, que já havia um gabinete mobiliado e decorado, como o que tenho hoje. Que sempre estive no ensino superior.

Poucos sabem que terminei meu primeiro curso superior no período noturno porque precisei lecionar pela manhã e tarde, para pagar a PUCCamp, visto que a situação em casa era “irada”. Como poucos sabem que fiz Mestrado e doutorado sem bolsa de estudos e trabalhando e, mesmo assim, não pedi prorrogação de prazo para defender minhas teses.

Bem, isso é outro assunto. O que entra em foco aqui é que a trajetória de um professor universitário, de uma universidade estadual paulista, é no mínimo doutor, com tese defendida (desculpa: doutor é quem defende doutorado!!!) e inserção social comprovada por seu trabalho de atendimento ao público, sua participação em congressos e eventos que consolidam sua produção, além de várias outras participações na comunidade acadêmico-científica.

Estou perto do bote que quero dar: vocês sabiam que estes docentes podem ficar sem seu 13° salário, porque não há verba destinada para este fim? Então, pois saibam. Esta é a realidade. Isto é um caso ou um descaso? Qual a perspectiva que o professorado de uma das maiores universidades do estado de São Paulo tem, sabendo que outras universidades já quitaram seus compromissos? Quem se mobilizará?


AFONSO ANTÔNIO MACHADO

É docente e coordenador do LEPESPE, Laboratório de Estudos e Pesquisas em Psicologia do Esporte, da UNESP. Mestre e Doutor pela UNICAMP, livre docente em Psicologia do Esporte, pela UNESP, graduando em Psicologia, editor-chefe do Brazilian Journal of Sport Psychology.